segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

A tragédia da esquerda brasileira diante dos fatos



Não esqueci a obrigação assumida de falar sobre uma proposta de solução para a questão do crime no Rio de Janeiro.Mas vendo o espetáculo horrendo da esquerda brasileira na votação do decreto de intervenção federal,presente na constituição,feita inclusive com a ajuda das esquerdas,não pude deixar de fazer umas considerações que serão úteis para o artigo prometido.
No inicio da minha militância,na década de 80,no PCB,foi um custo notar a distância da concepção teórica,materialista dialética e histórica ,em relação à realidade do país.Se como militante de esquerda você não tem condições políticas de implementar as suas soluções a sua obrigação é considerar o que é possível fazer,ainda que isto implique numa aliança com setores da burguesia.
Nós raciocinávamos desta forma:as políticas européias de segurança eram um modelo possível para o Brasil,mas enquanto não fossem implementadas não fazia sentido desarmar a  polícia,porque o Rio de Janeiro não era Londres ou Viena da Áustria.
Marx falava no concreto de pensamento e dizia que a “ verdade é concreta”.Funciona assim,se você vai além de orelha de livro de Marx:fruta é uma abstração,mas designa coisas,seres reais dentro de um padrão.O trabalho explorado abstrato conduzia ao trabalho real,e vice-versa.
O marxismo constata e diagnostica bem(às vezes o óbvio),mas na hora de elaborar uma política se atrapalha,porque mesmo o concreto de pensamento não é suficiente para mostrar a realidade sociológica de algum lugar.Sorokin e Max Weber provaram as limitações estruturais da teoria marxista.
Se você tem o diagnóstico  certo não quer dizer que exista uma política correspondente.Todo mundo concorda que a educação é a solução,que investimento nas questões sociais ajudará,mas quando que a esquerda brasileira saiu do puro diagnóstico para elaborar uma política ,contra a direita?Em primeiro lugar grande parte dela financia a violência ,nós sabemos como...
O PDT se coloca contra a intervenção.Quem facilitou as coisas na mesma década de 80?Sebastião Nery conta como Brizola se referia aos traficantes que se apossavam cada vez mais dos morros do Rio:” os rapazes”.E eu pessoalmente cheguei a ouvir da parte de teóricos deste partido que o traficante era o intelectual orgânico de Gramsci...
Quem se aliou aqui no Rio ao descalabro do Governo  Lula-Dilma?
Certo o PSOL não.Mas este partido está inserido nos problemas que eu citei.O Deputado Ivan Valente se levanta na tribuna e seguindo a abstração marxista,que ele leu em orelha de livro de Marx,diz que as estatísticas provam que o nível de crimes no Rio é o menor do Brasil.Como a estatística prova isto,a ciência o prova,não tem importância  120 pais de família mortos em dois meses.Não importam 10.000 assassinatos por ano.Eu mesmo na minha rua ,em dois anos,vi 5 tiroteios e duas mortes.
Se abstração diz ,o concreto não tem valor.
E tem a dialética e  a visão de classe.”A intervenção é feita para prejudicar as comunidades”.Mas a classe média(em que me incluo)está pedindo a  intervenção exatamente por causa dos crimes que são mais freqüentes nos setores menos favorecidos da população,dialeticamente falando.
É lógico que por trás de tudo isto existem propósitos escusos,mas o que a esquerda fez nestes anos para evitar que a direita prosperasse?Eu tenho falado isto desde 2013,desde as manifestações:” olha, a direita vai comer o bife”,” a esquerda está cometendo os mesmos erros de 64”.Escrevi  um artigo sobre o nosso período histórico,que seria “ uma farsa”.
Anos e anos e a esquerda se repete nos erros.A reforma da previdência não foi derrotada como disse erradamente o deputado Ivan Valente.Ela vai ser feita até  com mais facilidade.
A verdade é concreta.Por mais que eu saiba dos perigos deste decreto não dá para ficar deste jeito.Há anos que o crime organizado e os poderes públicos(inclusive os de esquerda)têm  meios de por a população do Rio como refém e é isto o que está acontecendo.
Como nos anos 80 a solução social é a própria,mas não se pode desarmar a polícia.Como hoje,não se pode deixar a população(eu incluído)indefesa.

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