Não
esqueci a obrigação assumida de falar sobre uma proposta de solução para a
questão do crime no Rio de Janeiro.Mas vendo o espetáculo horrendo da esquerda
brasileira na votação do decreto de intervenção federal,presente na constituição,feita
inclusive com a ajuda das esquerdas,não pude deixar de fazer umas considerações
que serão úteis para o artigo prometido.
No
inicio da minha militância,na década de 80,no PCB,foi um custo notar a
distância da concepção teórica,materialista dialética e histórica ,em relação à
realidade do país.Se como militante de esquerda você não tem condições
políticas de implementar as suas soluções a sua obrigação é considerar o que é
possível fazer,ainda que isto implique numa aliança com setores da burguesia.
Nós
raciocinávamos desta forma:as políticas européias de segurança eram um modelo
possível para o Brasil,mas enquanto não fossem implementadas não fazia sentido desarmar
a polícia,porque o Rio de Janeiro não
era Londres ou Viena da Áustria.
Marx
falava no concreto de pensamento e dizia que a “ verdade é concreta”.Funciona
assim,se você vai além de orelha de livro de Marx:fruta é uma abstração,mas
designa coisas,seres reais dentro de um padrão.O trabalho explorado abstrato
conduzia ao trabalho real,e vice-versa.
O
marxismo constata e diagnostica bem(às vezes o óbvio),mas na hora de elaborar
uma política se atrapalha,porque mesmo o concreto de pensamento não é
suficiente para mostrar a realidade sociológica de algum lugar.Sorokin e Max
Weber provaram as limitações estruturais da teoria marxista.
Se
você tem o diagnóstico certo não quer
dizer que exista uma política correspondente.Todo mundo concorda que a educação
é a solução,que investimento nas questões sociais ajudará,mas quando que a
esquerda brasileira saiu do puro diagnóstico para elaborar uma política ,contra
a direita?Em primeiro lugar grande parte dela financia a violência ,nós sabemos
como...
O
PDT se coloca contra a intervenção.Quem facilitou as coisas na mesma década de
80?Sebastião Nery conta como Brizola se referia aos traficantes que se
apossavam cada vez mais dos morros do Rio:” os rapazes”.E eu pessoalmente
cheguei a ouvir da parte de teóricos deste partido que o traficante era o
intelectual orgânico de Gramsci...
Quem
se aliou aqui no Rio ao descalabro do Governo Lula-Dilma?
Certo
o PSOL não.Mas este partido está inserido nos problemas que eu citei.O Deputado
Ivan Valente se levanta na tribuna e seguindo a abstração marxista,que ele leu
em orelha de livro de Marx,diz que as estatísticas provam que o nível de crimes
no Rio é o menor do Brasil.Como a estatística prova isto,a ciência o prova,não
tem importância 120 pais de família
mortos em dois meses.Não importam 10.000 assassinatos por ano.Eu mesmo na minha
rua ,em dois anos,vi 5 tiroteios e duas mortes.
Se
abstração diz ,o concreto não tem valor.
E
tem a dialética e a visão de classe.”A
intervenção é feita para prejudicar as comunidades”.Mas a classe média(em que
me incluo)está pedindo a intervenção exatamente
por causa dos crimes que são mais freqüentes nos setores menos favorecidos da
população,dialeticamente falando.
É
lógico que por trás de tudo isto existem propósitos escusos,mas o que a
esquerda fez nestes anos para evitar que a direita prosperasse?Eu tenho falado
isto desde 2013,desde as manifestações:” olha, a direita vai comer o bife”,” a
esquerda está cometendo os mesmos erros de 64”.Escrevi um artigo sobre o nosso período histórico,que
seria “ uma farsa”.
Anos
e anos e a esquerda se repete nos erros.A reforma da previdência não foi
derrotada como disse erradamente o deputado Ivan Valente.Ela vai ser feita
até com mais facilidade.
A
verdade é concreta.Por mais que eu saiba dos perigos deste decreto não dá para
ficar deste jeito.Há anos que o crime organizado e os poderes
públicos(inclusive os de esquerda)têm
meios de por a população do Rio como refém e é isto o que está
acontecendo.
Como
nos anos 80 a solução social é a própria,mas não se pode desarmar a polícia.Como
hoje,não se pode deixar a população(eu incluído)indefesa.
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