domingo, 11 de fevereiro de 2018

O carnaval e Crivella



Crivella foi o primeiro prefeito a não passar a chave da cidade ao rei Momo e disse que o Carnaval é só uma festa.O que representa esta  encenação é algo fundamental nas sociedades modernas:o governo e a religião se digladiam o tempo todo para ver quem manda.
Infelizmente a metrópole cultural liberal e charmosa que já foi o Rio de Janeiro está se inclinando mais e mais para  a teocracia.
Desde Lacerda o Rio não participa do processo político nacional com candidatos genuinamente formados aqui.A minha esperança,já exposta nos meus blogs,é que o Rio retornasse a esta antiga condição,pelo esforço bem sucedido de solucionar o problema da violência,que certamente induziria a solução dos outros ,saúde e educação.
Mas tudo leva  a crer que o viés religioso e não laico será esta mediação de reinserção do Rio no cenário político nacional e tal significará  um retrocesso inacreditável para o nosso país,que tem o Rio como a síntese do país todo.
Se nós observarmos os padrões de evolução nacional em outros países veremos que a integração entre as classes num conceito nacional é o suporte de seu crescimento.Historicamente foi sempre assim,mas o Brasil vai na onda contrária.Exclui o negro do futebol,o pobre,o povo.
Outro padrão essencial é a laicização,a separação real do estado e da religião.O Brasil segue o oposto.
Há um perigo real de haver uma separação entre governo evangélico e  atividade cultural do carnaval.
De modo geral o cristianismo não é do mundo,mas vira e mexe quer controlá-lo por um pressuposto de maioria eleitoral.Até o advento do nazismo na Alemanha a maioria não era problema,mas a partir dele toda maioria ,principalmente massiva quer abraçar o estado e a sociedade.
O cidadão comum é visto não como figura pública.Este papel é atribuído à pessoa que está sempre no plano da notoriedade(não fama),mas ao sair para o trabalho,para vida coletiva, o homem anônimo é um ser público.
Ao entrar na igreja de sua escolha o cidadão toma uma decisão pessoal legítima,mas ao sair do seu culto,do seu ritual,ele retoma a sua vida “ pública”.A religião serve à vida privada(não íntima),mas o cidadão não deve levar esta condição privada para a vida nacional coletiva.
Fazer esta separação de modo rigoroso é o caminho do progresso de qualquer nação.Não só isto,mas também isto.
Quando Crivella se nega a entregar a chave ao rei momo está dizendo que só a parte que votou nele ,nas eleições,vale.As necessidades públicas da cultura estão sendo excluídas,em grande parte por causa do sexo,do corpo que se expõe,que a religião não consegue abordar e que faz parte inclusive da prática de muitos evangélicos e cristãos que vão à Sapucaí.
É uma posição exclusivista e que só tende a piorar,semelhante ao fim do jogo na década de 40.Será que o objetivo é acabar com o Carnaval?

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