Desdobramentos
e Aprofundamentos
Refletindo
sobre estes últimos e graves acontecimentos no Rio de Janeiro e lembrando-me de
outros fatos em outro lugares resolvi voltar aqui para aprofundar a análise
anterior.
Entendi
de forma diferente o papel estranho de Crivella.E aí me lembrei das barricadas
na França em 68,em que o general de Gaulle ficou isolado e sem dizer o seu
paradeiro,esperando que os fatos se precipitassem para ele dar um golpe.O que
salvou a França foi a constatação de que
a maioria do país não estava a favor das barricadas e o general pode
propor um plebiscito sobre seu governo,no qual ele já sabia ser vitorioso.Ele o
foi,ficou mais dois anos,mas saiu desgastado.Hannah Arendt analisou toda esta
questão.
Em
1973,em Portugal, a ausência de Marcelo Caetano permitiu que um pelotão de capitães fizesse um incursão
preparatória da Revolução dos Cravos.Uma guarnição saiu do quartel e não foi
contraditada por ninguém,provando que o regime salazarista apodrecia.
Esta
saída de Crivella me parece símile.Saindo de forma tão escandalosa ele permitiu
a entrada do exército,coisa que já vem ocorrendo(experimentação do golpe?).Será
que isto não foi combinado?Não importa.Parece tudo feito de caso pensado para auscultar a reação
da sociedade civil.Se ela for convencida de que o melhor é uma intervenção
militar estamos fritos.
Ora
,por isso no artigo anterior eu disse que era preciso que houvesse alguém do
Rio governando apesar de tudo,mas não estes que estão aí.O estado de fraqueza
de Pezão favorece a transformação da pura intervenção militar em ditadura,em
golpe,porque o exército não vai tratar só da segurança,mas de outros setores.Ele
não tem mais força,mas o Rio e o seu governo têm que continuar.
O
caso de Crivella é mais complexo do que eu disse no artigo anterior,porque
embora ele se enfraqueça também com esta fugida,a sua volta pode ser acolhida
pela população evangélica do Rio de maneira a lhe devolver legitimidade.Mas
neste caso,havendo acefalia no governo do estado,como já há,ele articula com o
exército uma ampliação da intervenção nos termos supraditos,unindo,como em 64,o
conservadorismo cristão do Rio com as forças armadas,não precisando do
espantalho comunista(embora este vá ser atingido),mas da corrupção e fraqueza
dos políticos,discurso presente em 64.Um golpe nestas condições revive o
exército em condições mais fortes do que na década de 60,porque o problema
principal serão os políticos brasileiros.O exército vem sendo sucateado nos
últimos anos de governo de esquerda.Há anos atrás tratei deste problema,inclusive
conversando com amigos e alunos militares.O soldo tinha diminuído demais.A falta
de dinheiro obrigava os soldados a dormir em casa e não nos quartéis.A
esquerda,no governo,agiu revanchisticamente,sem olhar a função nacional das
forças armadas,mas só a ditadura.A esquerda não encarou o exercício
profissional da força armada,para além dos regimes.Não olhou para a diferença
entre as pessoas e o significado das instituições.Acrescente-se a isto que
,preconceituosamente,como é próprio de certo elitismo vermelho(definição
minha),para evitar novos golpes,a esquerda favoreceu a classe média,tornando as
armas,no entender dela, mais capaz de evitar os golpes,como se a classe média
não estivesse em 64...Com esta virada foram culpabilizados os setores mais
pobres da população,num processo de excludência que é uma das marcas de nosso
tempo.Eu disse que o as forças armadas precisam ser ocupadas por todas as
classes,com leve predomínio da população mais pobre,que encontra nesta
profissão,uma única oportunidade de ter uma boa formação.
Por
esta razão eu insisti na renúncia,mas na continuidade dos governos,mas
acrescentei agora uma nuance no caso de Crivella,porque ficou claro para mim o
descalabro da sua viagem à Europa.Não é possível que ele tenha feito isto inconseqüentemente
.
Estamos
diante de um caminho grave,o do golpe militar.Não será um golpe Fujimori,feito
através dos parlamentos,mas um golpe latino-americano tradicional.Civil-militar.Temer,que
não tem popularidade,diante de um quadro que só piora,poderia adiar as eleições
e se prolongar no poder,alegando os motivos de sempre:necessidade de por em
ordem o país.
A
saída é que a população não dê o suporte
a este propósito.Que a consciência laica do povo brasileiro e carioca em
particular não caia neste lero.
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