sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Renúncia já de Pezão e Crivella II



Desdobramentos e Aprofundamentos



Refletindo sobre estes últimos e graves acontecimentos no Rio de Janeiro e lembrando-me de outros fatos em outro lugares resolvi voltar aqui para aprofundar a análise anterior.
Entendi de forma diferente o papel estranho de Crivella.E aí me lembrei das barricadas na França em 68,em que o general de Gaulle ficou isolado e sem dizer o seu paradeiro,esperando que os fatos se precipitassem para ele dar um golpe.O que salvou a França foi a constatação de que  a maioria do país não estava a favor das barricadas e o general pode propor um plebiscito sobre seu governo,no qual ele já sabia ser vitorioso.Ele o foi,ficou mais dois anos,mas saiu desgastado.Hannah Arendt analisou toda esta questão.
Em 1973,em Portugal, a ausência de Marcelo Caetano permitiu que  um pelotão de capitães fizesse um incursão preparatória da Revolução dos Cravos.Uma guarnição saiu do quartel e não foi contraditada por ninguém,provando que o regime  salazarista apodrecia.
Esta saída de Crivella me parece símile.Saindo de forma tão escandalosa ele permitiu a entrada do exército,coisa que já vem ocorrendo(experimentação do golpe?).Será que isto não foi combinado?Não importa.Parece tudo  feito de caso pensado para auscultar a reação da sociedade civil.Se ela for convencida de que o melhor é uma intervenção militar estamos fritos.
Ora ,por isso no artigo anterior eu disse que era preciso que houvesse alguém do Rio governando apesar de tudo,mas não estes que estão aí.O estado de fraqueza de Pezão favorece a transformação da pura intervenção militar em ditadura,em golpe,porque o exército não vai tratar só da segurança,mas de outros setores.Ele não tem mais força,mas o Rio e o seu governo têm que continuar.
O caso de Crivella é mais complexo do que eu disse no artigo anterior,porque embora ele se enfraqueça também com esta fugida,a sua volta pode ser acolhida pela população evangélica do Rio de maneira a lhe devolver legitimidade.Mas neste caso,havendo acefalia no governo do estado,como já há,ele articula com o exército uma ampliação da intervenção nos termos supraditos,unindo,como em 64,o conservadorismo cristão do Rio com as forças armadas,não precisando do espantalho comunista(embora este vá ser atingido),mas da corrupção e fraqueza dos políticos,discurso presente em 64.Um golpe nestas condições revive o exército em condições mais fortes do que na década de 60,porque o problema principal serão os políticos brasileiros.O exército vem sendo sucateado nos últimos anos de governo de esquerda.Há anos atrás tratei deste problema,inclusive conversando com amigos e alunos militares.O soldo tinha diminuído demais.A falta de dinheiro obrigava os soldados a dormir em casa e não nos quartéis.A esquerda,no governo,agiu revanchisticamente,sem olhar a função nacional das forças armadas,mas só a ditadura.A esquerda não encarou o exercício profissional da força armada,para além dos regimes.Não olhou para a diferença entre as pessoas e o significado das instituições.Acrescente-se a isto que ,preconceituosamente,como é próprio de certo elitismo vermelho(definição minha),para evitar novos golpes,a esquerda favoreceu a classe média,tornando as armas,no entender dela, mais capaz de evitar os golpes,como se a classe média não estivesse em 64...Com esta virada foram culpabilizados os setores mais pobres da população,num processo de excludência que é uma das marcas de nosso tempo.Eu disse que o as forças armadas precisam ser ocupadas por todas as classes,com leve predomínio da população mais pobre,que encontra nesta profissão,uma única oportunidade de ter uma boa formação.
Por esta razão eu insisti na renúncia,mas na continuidade dos governos,mas acrescentei agora uma nuance no caso de Crivella,porque ficou claro para mim o descalabro da sua viagem à Europa.Não é possível que ele tenha feito isto inconseqüentemente .
Estamos diante de um caminho grave,o do golpe militar.Não será um golpe Fujimori,feito através dos parlamentos,mas um golpe latino-americano tradicional.Civil-militar.Temer,que não tem popularidade,diante de um quadro que só piora,poderia adiar as eleições e se prolongar no poder,alegando os motivos de sempre:necessidade de por em ordem o país.
A saída é que a  população não dê o suporte a este propósito.Que a consciência laica do povo brasileiro e carioca em particular não caia neste lero.

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