Tenho
que retornar a este tema porque algumas conclusões devem ser postas à vista de
todos,dentro de uma perspectiva(que eu defendo,como ficou claro)laica.
Eu
abandonei a idéia marxista de que para construção da utopia será necessário
acabar com a religião.Não é só pela
constatação de que não adianta reprimi-la,porque isto seria cinismo perverso.Na
minha opinião não vai rolar a utopia se este condicionamento se colocar e quem
conhece história tem que concordar comigo.
O
iluminismo e seus derivativos modernos,como a tão propalada hoje neurociência
repetem um erro recorrente, que é o de acreditar(o termo é este)que existem
explicações científicas,neurológicas, para as pessoas acreditarem que uma
mulher virgem conceba ou que a humanidade tenha vindo de um casal primordial.
A
sociologia é a verdadeira ciência capaz de por os homens uns diante dos outros
e de evitar estas formas dogmáticas e atemporais em que a ciência se torna, não
raro.
Isto
porquê se fizermos a leitura do “ livro do mundo” com preconizou Descartes,veremos
o extremo desamparo em que a humanidade viveu e vive até hoje,assolada por
miséria e injustiças.
Quando
uma pessoa assim ,se vê diante de uma instituição,que é a única organização de
massa na história(só existe uma e é a religião),que a convida para entrar num
momento difícil ,não exigindo nenhuma preparação prévia,a põe diante de muitas
outras pessoas orientadas a
ajudá-la,como preocupações objetivas ou científicas vão impedir o seu movimento
de adesão?Não é uma questão neuronal ou de auto-engano,mas de necessidade.
O
meu antigo professor na Faculdade de Direito, Maciel, falava da imprescindibilidade
da sociologia,que é uma ciência realmente universal e básica, e por causa dele penso
nestas questões atinentes à religião.E também por causa de um outro professor
meu,Leonardo Boff,quem mostrava que a pessoa não precisa ser mais do que pessoa
para entrar na religião.
Eu
já delimitei algumas das minhas premissas de abordagem da religião,falando
sobre a simbiose entre império romano e cristianismo,através de Constantino.Uma
coisa é a crença ,outra é o seu uso pelo poder.
Para
muitos anti-religiosos da história não adianta admitir a crença,porque esta,uma
hora ou outra ,vai ser cooptada pelo
poder.
Eu
prefiro pensar que se o estado cumprir as suas funções óbvias de evitar o desamparo
humano,a religião será só o que deve ser:uma orientadora axiológica legítima dos homens e aí eu entro no tema
deste artigo,quer dizer, eu concluo estas reflexões.
Qual
o limite entre esta orientação e o papel da atividade política do estado,que
juridicamente representa a todos?Quero dizer,para a mediania ética do Brasil,o
que eu digo não faz sentido,porque discutir o aborto,a transexualidade,são os
temas da política.
Não
é bem assim,a política é uma atividade prática destinada a incluir a todos no
processo econômico.Estas questões citadas são importantes,mas não são
prioritárias,pois prioritária continua sendo a fome e todos os movimentos que
lutam por seus direitos têm,a meu ver a
obrigação de acoplar as suas reivindicações à questão social.Depois
aprofundarei este tema,explicando porquê penso assim.Agora o que eu quero dizer
é que às vezes uma questão une a religião à sociedade civil,mas a delimitação
básica é entre as concepções religiosas e a tarefa prática do estado.
O
cidadão busca privadamente a sua orientação,mas quando sai deve pensar em todos
e em termos práticos.Infelizmente Crivella virou as costas às tarefas do
estado,para favorecer o seu projeto de teocracia.
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