terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Lamarca ,Eu e a desobediência civil



Lamarca estava praticamente sozinho(como o Che),ao morrer em 1971,no sertão da Bahia.Ele foi lá sozinho para servir de irradiação a um processo revolucionário ,partindo da guerrilha no campo.
A sua teoria é a mesma minha,guardadas as devidas proporções:estou sozinho,como cidadão ,que deve ser reconhecido,não só nos seus deveres,mas também nos direitos.No direito de receber em troca a realização dos fins do estado e do governo,o bem-estar social.
Os que acreditam na luta de classes dizem ser isto impossível,mas eu discordo e exijo que no meu tempo de vida e no imediato os deveres do estado sejam cumpridos.
Se isto não  se dá,não oponho uma estratégia de desobediência civil,propriamente,mas  viver a vida dentro de uma mediação privada e paralela que me torne o mais auto-suficiente possível,não  contra os outros mas a meu favor.
Não há justificativa para que o cidadão não se municie de conhecimentos para realizar uma vida a mais plena possível,apesar dos desatinos do estado.
Stalin costumava dizer(meu pai stalinista repetia isto sempre na mesa de jantar)que o cidadão soviético devia ter o “ nível de um engenheiro”,mas esta idéia não era dele,mas das tendências positivistas do século XIX e do inicio do XX.E o positivismo está na base da ideologia que formou o Brasil Republicano.
A ciência mais completa é a engenharia e ela deve  ,nos elementos mais efetivos,básicos,estar na bagagem cultural de todo cidadão médio.Em poucas palavras o que os positivistas cristalizaram na sua doutrina é um movimento que vem do capitalismo nascente e da Revolução Protestante.Max Weber analisou a poupança(entesouramento)e o ethos do trabalho na Reforma.É dentro deste ethos que surge a idéia da auto-suficiência do cidadão moderno(distinto do cidadão das repúblicas antigas que justificavam a exploração do escravo pelo conceito de “ otium cum dignitate”[Hannah Arendt analisa toda esta questão em “ A Condição Humana”]{em breve eu analisarei estas concepções aqui}).
A postura da “ sociedade alternativa”,no final da década de 60 é do mesmo feitio:basta uma horta e uma casa para viver bem.Logo, a sociedade transgressora dos hippies têm a sua origem em Lutero e Calvino,nos positivistas e raciocinam como  Stalin([e  com os liberais}kkkkk!).Ver o filme “ Easy Rider”,à propósito.
Euzinho tenho a ver com tudo isto.
Mas a coragem da ruptura é impossível, na medida em que esta sociedade alternativa ,privada e paralela ,não tem como mudar um mundo complexo,que exige governos.Então a minha proposta,com o meu posicionamento aqui, é fazer esta mudança de dentro,horizontalmente, ,mudando a mediação ditatorial do cotidiano.
Numa famosa entrevista dada antes de morrer ao Pasquim,Alceu Moroso Lima notou que a pior ditadura não é a que vem de cima para baixo,mas aquela que permeia o tecido social ,de baixo para cima e no “ corte”.Está lá na entrevista:” o pior não é o Hitler,não é o Stalin,é o ditador do cotidiano”.Ele provavelmente(não me lembro)se referia à famosa  frase do vice de Costa e Silva,Pedro Aleixo,dita na reunião do AI-5.O general presidente foi contestado por ele.Pedro Aleixo queria apenas o estado de sítio,momentâneo,ao que ele perguntou:” o senhor vice-presidente duvida das minhas mãos democráticas e honradas,das minhas mãos dignas?”.E Pedro Aleixo disse uma das frases conceituais fundamentais  da nacionalidade e da ciência política das ditaduras(quaisquer);” As suas mãos dignas eu não temo,eu temo é o guarda da esquina”.
Hoje,mulheres que não querem ter filhos iniciam um movimento para barrar a pressão das religiões;o movimento lgbt ganha força neste mesmo sentido;o movimento feminista ainda precisa de uma autocrítica,na sua relação crítica(nem sempre)com o patriarcado,mas vem avançando.
E eu,como cidadão,sigo junto destas pessoas,no sentido valorizar o individual como legítimo sustentáculo da atuação política.Se para fazer política partidária,como todo mundo sabe,há que se pagar um determinado preço(sem ironia),a luta individual é justa e procede.Não se trata de individualismo ,mas de afirmação da realidade do individuo,do cidadão,que só é reconhecido quando paga imposto(inutilmente).

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