Lamarca
estava praticamente sozinho(como o Che),ao morrer em 1971,no sertão da Bahia.Ele
foi lá sozinho para servir de irradiação a um processo revolucionário ,partindo
da guerrilha no campo.
A
sua teoria é a mesma minha,guardadas as devidas proporções:estou sozinho,como
cidadão ,que deve ser reconhecido,não só nos seus deveres,mas também nos
direitos.No direito de receber em troca a realização dos fins do estado e do
governo,o bem-estar social.
Os
que acreditam na luta de classes dizem ser isto impossível,mas eu discordo e
exijo que no meu tempo de vida e no imediato os deveres do estado sejam
cumpridos.
Se
isto não se dá,não oponho uma estratégia
de desobediência civil,propriamente,mas viver a vida dentro de uma mediação privada e
paralela que me torne o mais auto-suficiente possível,não contra os outros mas a meu favor.
Não
há justificativa para que o cidadão não se municie de conhecimentos para
realizar uma vida a mais plena possível,apesar dos desatinos do estado.
Stalin
costumava dizer(meu pai stalinista repetia isto sempre na mesa de jantar)que o
cidadão soviético devia ter o “ nível de um engenheiro”,mas esta idéia não era
dele,mas das tendências positivistas do século XIX e do inicio do XX.E o
positivismo está na base da ideologia que formou o Brasil Republicano.
A
ciência mais completa é a engenharia e ela deve ,nos elementos mais efetivos,básicos,estar na
bagagem cultural de todo cidadão médio.Em poucas palavras o que os positivistas
cristalizaram na sua doutrina é um movimento que vem do capitalismo nascente e
da Revolução Protestante.Max Weber analisou a poupança(entesouramento)e o ethos
do trabalho na Reforma.É dentro deste ethos que surge a idéia da
auto-suficiência do cidadão moderno(distinto do cidadão das repúblicas antigas
que justificavam a exploração do escravo pelo conceito de “ otium cum dignitate”[Hannah
Arendt analisa toda esta questão em “ A Condição Humana”]{em breve eu
analisarei estas concepções aqui}).
A
postura da “ sociedade alternativa”,no final da década de 60 é do mesmo
feitio:basta uma horta e uma casa para viver bem.Logo, a sociedade transgressora
dos hippies têm a sua origem em Lutero e Calvino,nos positivistas e raciocinam
como Stalin([e com os liberais}kkkkk!).Ver o filme “ Easy
Rider”,à propósito.
Euzinho
tenho a ver com tudo isto.
Mas
a coragem da ruptura é impossível, na medida em que esta sociedade alternativa
,privada e paralela ,não tem como mudar um mundo complexo,que exige
governos.Então a minha proposta,com o meu posicionamento aqui, é fazer esta
mudança de dentro,horizontalmente, ,mudando a mediação ditatorial do cotidiano.
Numa
famosa entrevista dada antes de morrer ao Pasquim,Alceu Moroso Lima notou que a
pior ditadura não é a que vem de cima para baixo,mas aquela que permeia o
tecido social ,de baixo para cima e no “ corte”.Está lá na entrevista:” o pior
não é o Hitler,não é o Stalin,é o ditador do cotidiano”.Ele provavelmente(não
me lembro)se referia à famosa frase do
vice de Costa e Silva,Pedro Aleixo,dita na reunião do AI-5.O general presidente
foi contestado por ele.Pedro Aleixo queria apenas o estado de
sítio,momentâneo,ao que ele perguntou:” o senhor vice-presidente duvida das
minhas mãos democráticas e honradas,das minhas mãos dignas?”.E Pedro Aleixo disse
uma das frases conceituais fundamentais da nacionalidade e da ciência política das
ditaduras(quaisquer);” As suas mãos dignas eu não temo,eu temo é o guarda da
esquina”.
Hoje,mulheres
que não querem ter filhos iniciam um movimento para barrar a pressão das
religiões;o movimento lgbt ganha força neste mesmo sentido;o movimento feminista
ainda precisa de uma autocrítica,na sua relação crítica(nem sempre)com o
patriarcado,mas vem avançando.
E
eu,como cidadão,sigo junto destas pessoas,no sentido valorizar o individual
como legítimo sustentáculo da atuação política.Se para fazer política
partidária,como todo mundo sabe,há que se pagar um determinado preço(sem
ironia),a luta individual é justa e procede.Não se trata de individualismo ,mas
de afirmação da realidade do individuo,do cidadão,que só é reconhecido quando
paga imposto(inutilmente).
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