quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

O truque de Constantino e o culto de Nossa Senhora de Aparecida



O truque de Constantino vem desde a Mesopotâmia e do Antigo Egito:a religião justifica a dominação,a exploração.Mas eu já acrescentei ,em outras análises,conseqüências fundamentais para este esquema,tão antigo quanto a civilização.
A consequencia mais deletéria é desobrigar o Estado de cumprir as suas funções de ajuda às pessoa desamparadas.Eu digo isto porque até aos dias de hoje é assim.
Não há como não aplaudir a iniciativa de pessoas religiosas honestas em ajudar.Contudo ,ao longo do tempo e da História ,isto cimenta a omissão do estado e facilita os seus mecanismos de corrupção.Parte do dinheiro que vai para os seus cofres não é fiscalizado,com a devida atenção,porque o problema social foi aplacado pela religião,através da caridade.
Ao tornar o cristianismo religião oficial do império romano Constantino reinterpretou este conceito e esta aliança entre o poder do estado e  a religião.
Ocorre que nós vivemos numa época de suposta separação entre a Igreja e o Estado.De novo lembro Foucault aqui:nominalmente esta intenção é assumida por todos,mas na prática ela é totalmente contradita.
Dentro das discussões sobre o politicamente incorreto este problema é revisitado.A direita monárquica brasileira,que tanto criticou as relações do catolicismo com o marxismo,pela teologia da libertação,agora faz o mesmo com a sua ideologia.Agora eu entendo o papel de Leandro Karnal.
Como o culto de Nossa Senhora foi incrementado pela “ redentora”,Princesa Isabel,este bastião do reacionarismo pátrio,que são os Orleães e Bragança,a fé do povo está sendo usada para conduzi-lo à aceitação da monarquia como solução “ moderna” para o país.
Há muitos anos,precisamente nos anos 70 já se falava nesta questão.Usáva-se inclusive o Carnaval,que até então repercutia nos temas,gestos e vestimentas uma vinculação com a aristocracia brasileira do século XIX.E ainda se vê indelevelmente nas funções de Mestre-Sala e Porta-Bandeira .
Alguns sociólogos viram nisto uma inconsciente aceitação e agradecimento,pelo gesto da “redentora” e tinha um quê de verdade nesta apreciação(não que a monarquia salvou a raça negra,mas que esta se sentiu agradecida,dentro de sua falta de militância,é verdade).Foi em reação a esta realidade que a esquerda do movimento negro propôs ,como ídolo,a figura de Zumbi,muito questionável,por outras razões(em outro artigo eu falarei sobre isto).
Mas por trás desta resposta agradecida do negro brasileiro,há uma categoria da ciência política,que é vassalagem,hodiernamente chamada de “ condição de súdito”.
Pouca gente se dá conta de que a república só se mantém se os seus cidadãos forem  considerados iguais no plano político e “ súditos “ da lei.
Se ouve em todos os lugares que é absurdo que um juiz ,que prolate uma sentença,mande mais do que o Presidente da República,porque o brasileiro ainda vê o primeiro mandatário como continuador do Imperador,na perspectiva salvacionista(que Lula tanto gosta).
Neste caldeirão de  problemas conceituais a direita monárquica entra,de forma sutil e desonesta,para,se utilizando da fé do povo ,introduzir-lhe na consciência,a “ verdade” de que ser “ súdito” de um rei é bom e está mais consentâneo com as carências do povo brasileiro.
Seguindo aqueles sociólogos citados,como o povo brasileiro não é ainda um povo,não possuindo educação e cultura e não tendo interesse na política,a sua submissão seria educativa,pois alguém,um rei, poderia “ educá-lo”.
Como sigo a visão de Gramsci,entendo que toda fé é legítima,de foro íntimo(Engels na Comuna de Paris) e não pode ser usada nem pela esquerda,nem pela direita,para propósitos políticos quaisquer,porque isto não levará à uma elevação educacional do povo brasileiro,mas à sua dominação,num plano ainda mais letal,porque quase teocrático.
O que elevará o povo é a democracia mesmo.Como diz Miguel Reali pai(de direita),citando Hegel,não se pode aprender natação lendo um tratado e sem ter a coragem de se lançar à água.
O povo brasileiro é impedido desta forma,como em outras ocasiões,de aprender a democracia,não só pelo seu cotidiano de  excludência,mas também pela ação destas elites intelectuais cínicas,que ganham foros de importância na relação com o povo(vendendo jornais por exemplo),mas estabelecendo barreiras,enganado-o e se aproveitando da péssima educação que lhe é dada.
Esta direita está comprometida com o golpe e por isso segue-lhe os passos ideológicos.da mesma forma como no passado ,quando usou Pelé para justificar o fechamento do congresso,alegando que o povo não sabia votar.Hoje,ela manipula o sentimento legítimo do povo,para atraí-lo para um projeto político autoritário,sob a justificativa de que o povo brasileiro é tutelado ou melhor(pior)deve sê-lo,para aprender,não se sabe quando(a elite sabe)a ser um povo altivo.

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