segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
Há quatro santos na Rússia:Dostoievski,Tolstoi,Eisenstein e Tarkovski
Eu
vou falar sobre cada um deles,mas inicio com Tolstoi,à propósito de série que a
Rede Globo vai exibir a partir de hoje.Tudo levar a crer que vai ser uma série
comum,mas suscita discussões,reflexões,sobre os mais diversos assuntos,o que
recomenda vê-la,sem problemas.
A
série é baseada no romance “ Guerra e Paz” ,que levou 5 anos para ser escrito e
é um dos maiores da história.
Alguns
temas estão presentes neste livro:a História,a revolução francesa,Napoleão,a
Rússia dos czares,mas o que avulta em importância,como o próprio título diz é a
relação entre o cotidiano e algumas das características tidas na época(e até
hoje porque não?)como essenciais da História,os fatos,os heróis humanos,como
Napoleão.
A
análise escrupulosa do caráter dos personagens é enfeixada nesta
dicotomia,que,no fundo expressa uma outra,mais profunda,que vai sendo
descoberta depois que o romance é publicado,o do cotidiano contraposto aos
cataclismos da história.
Tolstoi é um dos primeiros e um dos mais importantes críticos do culto da história e ,portanto,um dos preconizadores do seu fim.
Tolstoi é um dos primeiros e um dos mais importantes críticos do culto da história e ,portanto,um dos preconizadores do seu fim.
Ele
tem como companheiros o cristianismo,do qual ele tinha uma visão muito
particular, e de Marx ,com sua utopia comunista.Ele não propõe uma Utopia ,ele diz
que a utopia é um mundo de paz permanente,com seus costumes e valores
próprios,contraposta aos atos paroxísticos da Guerra.
Na
parte final do romance ele inaugura a questão,que seria retomada por Plekhanov,do
“ Papel do individuo na História”,com um texto ensaístico sobre a figura
histórica de Napoleão ,diminuído diante
do povo,diante do homem comum.Quer dizer, Tolstoi afirma o homem comum diante
dos heróis da História.Neste sentido ele é muito parecido com o Dostoievski de “
Crime e Castigo”,porque aqui o personagem ,Raskolnikov, se vê diante de sua vida vazia ,contraposta a
de Napoleão,cujos crimes são cantados em prosa e verso e legitimados(numa
relação dialética entre estes dois termos).Se os crimes de Napoleão,pensa ele,são legitimados e não
têm justificação nenhuma,a minha miséria(injusta)é mais autêntica do que a
dele,como fundamento de um crime.E comete-o.
Em
“ Guerra e Paz”,há um inicio em que o povo russo,mais instruído,os
aristocratas,admiram a individualidade criadora e livre de Napoleão,que seria
até um modelo a ser seguido pela Rússia dos czares(que devia se livrar destes
autocratas).Com o tempo e com as agruras da guerra ,esta apreciação vai sendo
mudada,por aquilo que está também em Dostoievski:a força do povo,a natureza
intrinsecamente renovadora do povo.Evidente que a perspectiva de Dostoievski é mais conservadora(depois tratamos disso)enquanto
que em Tolstoi a visão é quase socialista,ele que é tido como precursor do
movimento anarquista.
A
Rússia ,centro geopolítico o mundo,foi invadida duas vezes.Isto dá ao povo
russo a noção de sua grandeza e ,simultaneamente ,fragilidade,apanágio dos santos,dos
puros,que é o que a Rússia é,Santa.Ajudou a
humanidade duas vezes e por isso deve ser vista como algo importantíssimo
para a humanidade.Não só ver este
filme,mas ler o romance e olhar para além das partidas da próxima Copa,é
necessário,porque ensina,engrandece.
Os
personagens centrais do romance devem ser acompanhados com atenção,Pierre
Bezuhov,cujo nome francês denuncia aquela supradita admiração e Natasha.Ambos
são uma análise introspectiva do próprio Tolstoi,tendo como fulcro a natureza
do amor.Tolstoi foi imensamente infeliz e buscou ,nestes personagens,explicação
para este fracasso.
O
leitor vê a quantidade de possibilidades de análise que este romance oferece e por
causa disto eu vou acompanhar ,junto com todos,esta série e regularmente colocar aqui artigos sobre tudo
isto.
Mas
esse é a ponta do iceberg,a ponta de um projeto maior ,contido no título do
artigo.Estes quatro santos citados,à sua maneira,expressam e significam as
razões de santidade(não perfeição)do país da Copa.Mas com o tempo eu vou
mostrando porque penso assim.Enjoy.
domingo, 25 de fevereiro de 2018
Análise da conjuntura da intervenção
A
revelação dos bastidores da decisão da intervenção suscita-nos uma análise do problema todo.
Os
políticos do Rio de Janeiro são enfraquecidos com a decisão,mas não se sabe
realmente se a resistência de Rodrigo
Maia e Pezão representam uma espécie de script para que eles saiam,no
final,engrandecidos.Por aceitarem uma ajuda teriam crédito.Absolutamente.
O
que vale é a auto-crítica de
Pezão,quanto ao fim de sua aventura política pessoal.Isto é uma derrota para o
governo e os políticos do Rio de Janeiro,que deixaram chegar a este ponto o
problema da segurança.
Rodrigo
Maia pode bater pezinho porque ele não está aqui agora,mas ao longo dos anos
ele participa também da débâcle.Participa da omissão,no mínimo,dos políticos.
A
decisão era inevitável e não foi motivada,como oportunìsticamente a esquerda
diz,para encobrir a derrota na previdência.Esta derrota não é comprovável.Temer
ganhou tempo e se for bem sucedido na intervenção vai ter mais condições de
fazê-la ou de obrigar o próximo Presidente a fazê-lo.Porque a política não é só
em cima,mas nos diversos estamentos da organização política do país.
Outra
situação é a manipulação da Rede Globo ,esta obsessão paranóide da esquerda.Não
nego isto não,mas são dois níveis de realidade,a do discurso e a da realidade
mesmo.Se é verdade que os políticos conservadores e a rede globo manipulam,é verdade que a
realidade é esta mesmo.O governo venezuelano ,admirado pelos petistas,está
jogando pessoas inocentes na miséria(como fez aqui).A intervenção é necessária,porque
só quem vive no Rio sabe como as coisas estão.Não é porque esta decisão pode
ser usada pelos conservadores que a realidade da insegurança não exista.Existe
sim.Aqui não é Viena da Áustria.
E
,diante desta inevitabilidade há que fazer um discurso de esquerda conseqüente e
realista.Numa hora de radicalismo,de ações radicais, a questão social das
comunidades precisa ser colocada.A esquerda não atua de forma conseqüente porque
repudia a democracia e o estado de direito,como mediações de luta.Preocupados
com a revolução,fazem propostas genéricas e óbvias,mas não habitam a realidade
mesma,para lembrar um conceito de Sartre.
Se
o governo se fortaleceu,precisa de legitimidade e apoio para solucionar ou
equacionar de vez a questão da segurança e neste momento,neste interstício, era
hora de uma esquerda moderna forçar a discussão sobre os benefícios sociais que ajudarão a acabar com a violência.Isto
sim era o papel de uma esquerda
responsável,não virar as costas ao povo do Rio de Janeiro.
A
esquerda tem que entender que o povo das comunidades é aterrorizado pelo
tráfico e pelas milícias e se identifica com o exército e as forças armadas.Se
esta identificação se ampliar pela manipulação dos conservadores,a tendência é
para apoiar golpes e soluções de força.A esquerda tem entrar nisto aí para
fazer a pedagogia da questão social,para mostrar ao povo as nuances do problema
e o que ele deve fazer para pressionar os políticos,não no sentido da solução
de força,mas social.
Pezão
devia ter renunciado.Não agindo assim mostra a disposição de usar a situação
que ele criou para sobreviver.
Ninguém
sepultou a previdência,apenas estão tentando encontrar mecanismos mais seguros
e inevitáveis de sua implantação,dentro de um grande projeto de direita ,que os
erros da esquerda possibilitaram e possibilitam.
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