quarta-feira, 24 de julho de 2024

O meu vocabulário é próprio

 

De novo eu recebo ironias por causa do meu modo de escrever.Respondo mais uma vez que o meu vocabulário é próprio.Não há esta contraposição entre o falar erudito e o popular e nenhum dos dois tem o direito de suprimir o outro.

No Brasil,através de Mario de Andrade ,esta distinção se tornou quase um dogma intransponível.Na verdade a discussão deriva do final do século XIX na arte,principalmente na pictórica ,em que os parâmetros clássicos foram rejeitados em nome da valorização de uma arte expontânea e popular.

Gauguin ,Van Gogh, representam este movimento,mas também na filosofia se vê esta mudança em “ A origem da Tragédia” de Nietzsche ,em que ele inicia a sua crítica demolidora dos padrões racionais do V século grego,de Sócrates,Platão e Aristóteles.

Esta tendência(legitima)se espalhou pelo ocidente ,mas como em todo excesso,acabou por adquirir uma “tentação totalitária” de suprimir o clássico.

Aqui no Brasil esta questão vem seguida do problema social,da relação entre as classes altas e “ baixas” do país.

O Brasil é um país que sempre importou a visão clássica de outros lugares,sempre foi reflexo da produção do velho mundo prioritariamente(embora hoje a influência maior seja dos Estados Unidos).

Contudo ,as classes menos favorecidas,de diversos modos culturais,inclusive o esporte(futebol)deglutiram ,como canibais,estes criações e as transmutaram de modo mais autenticamente brasileiro.

E foi esta produção popular que  levou o Brasil a ser reconhecido,como nação com identidade própria e diferente.

Quando Carmem Miranda recebeu o gelo das classes altas ,que só “ consumiam”  ópera e clássicos,se fez uma análise equivocada do fenômeno:identificou-se a erudição e o clássico como produtos destas classes “dirigentes”(coisa nenhuma),como propriedade delas e infelizmente inadvertidamente o nosso Mario de Andrade chancelou.

Mas a erudição e a cultura popular são produtos humanos que transcendem às classes.

Desta maneira nem o clássico deve se impor ,como o popular também.

O meu vocabulário não é passadiço ou antiquado e nem é contra o povo.Ele é próprio das atividades que eu faço. Mas a cultura popular,um tanto quanto preconceituosa e demagogicamente ,entende que a cultura clássica não é valida.

Mas ao conhecimento se se eleva .Isto vale tanto para quem produz e transmite como eu como quem recebe e quer produzir.A relação com o conhecimento não é a mesma da comunicação radiofônica ou mercadológica:ela é transcendente a estes vínculos diretos.

Por isto a crítica contra o meu modo barroco de falar não vale,porque ele é próprio para as coisas de que falo e este rebuscamento é pessoal,do meu temperamento e não há porque eu me submeter a algo que está fora de mim.

“O estilo é o homem” dizia Boileau.

 

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