quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Análise de conjuntura

Sempre que os acontecimentos da politica se avolumam e precipitam não resisto a vir aqui fazer esta “ famosa” análise de conjuntura.
E me acostumei,acima de tudo,a notar certos fatos corriqueiros,que não chamam a atenção de ninguém ou parecem banais.
Dois fatos,neste sentido,avultam antes ,durante e depois do natal:o filmezinho mediocre da “ Porta dos Fundos” e os dois coquetéis molotov lançados sobre a produtora;e a tentativa do prefeito Crivella de ,no reveillon ,apresentar um show gospel,pedido denegado pelo tribunal de justiça do rio de janeiro,muito justamente,seguindo a constituição.
Vou começar por este último:ora,fica claro que este pedido se integra numa estratégia clara do prefeito evangélico de provocar uma reação mais do que esperada quanto a esta denegação:como não pode o prefeito envolver a sua condição pública num projeto pessoal que se coaduna com a sua escolha religiosa pessoal e não atacar os truques pelos quais os valores da rede globo,na sua promiscuidade com o estado que permitem a ela poder passar valores rejeitados pela maioria religiosa da população,como homoafetividade?
Dentro do princípio liberal que norteia os governos pró-bolsonaristas,quem não tem receptividade do mercado não deve usar o estado para reproduzir a sua mensagem e fazer um nicho.Ou,pelo menos,se isto vale para uma grande empresa televisiva,deve valer para o pequeno(como eu,por exemplo...).
Se não há direito de fazer um show gospel no reveillon a Rede Globo não tem o direito de passar o seu discurso,o tempo todo,só porque o estado o apóia.O estado,no sentido geral do termo:os contratos feitos pelos governos anteriores,que Bolsonaro quer cassar( e Crivella e Witzel).
O primeiro caso citado é semelhante:semanas atrás eu disse que que este filmezinho porcaria era uma provocação de dentro das hostes religiosas,mas não importa se eu estou errado ou certo em dizê-lo.Importa é que ele cumpriu o papel de provocar comoção nestas mesmas hostes.É mais uma tentativa de reunir o povo religioso em torno de uma causa que justifique um(o)golpe.
Nós estamos naquele momento de preparação da “ Marcha com Deus”.Se ela vier a ocorrer estamos fritos e é por isto que eu reitero ao centro,à centro esquerda ,à Ciro Gomes ,que preencha este vazio da democracia ,já que o PT e a esquerda radical,no seu bater de pézinhos,confronta Bolsonaro e o ajuda a criar o clima para o que ele quer.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Esclarecimentos sobre a minha concepção de nação

Tenho sempre que voltar aos mesmos temas que reitero porque fica sempre alguma coisa sem compreensão de quem me lê.
Os que acompanham o processo de impeachment de Trump têm percebido que este presidente tem tudo para se salvar ,na medida em que se coloca ao lado do americano médio,que se sente esquecido pelas visões internacionalistas da esquerda.Aliás foi isto o que garantiu a eleição de Trump e eu já analisei o fato na época do pleito.
Mas agora as consequencias deste posicionamento de Trump criam outros problemas de compreensão quanto ao problema nacional e a minha visão.
Para mim é um falso problema colocar internacionalismo e nacional (não exaltação nacionalista)contrapostos.O internacionalismo dos comunistas e marxistas é que confundiu isto tudo.
Por causa da posição de Trump os imigrantes ficaram de fora ,excluídos,notadamente os latinos,que fizeram,inclusive uma marcha.
Porque não pode haver um entendimento mundial para que os povos mais ricos ajudem os mais pobres a sair da miséria e prover os seus nacionais da maneira certa?Existem muitas e muitas justificativas para não fazer,mas é tudo falso.
O modo como agem as grandes potências,eu já disse,regula com o seu passado colonial,imperialista.Muito embora não exista mais um imperialismo,como dominação militar ou civil sobre as colônias,a obra da colonialismo continua aí.
Joaquim Nabuco disse que a escravidão tinha acabado,mas que sua “ obra” continuaria por muito tempo.O mesmo se diz do colonialismo.
Florestan Fernandes explicou como funcionava o pacto colonial:a metrópole domina a colônia através de uma elite(chamada na américa latina de elite “ criolla”,” creóle).Isto acontece porque esta elite,além de dominar mais eficazmente a colônia serve de mercado para os produtos altamente valorizados da metrópole.Nós todos sabemos:a metrópole extrai as matérias-primas da colônia,leva para ela própria ,produz bens de qualidade,que são consumidos pela elite citada,capaz de comprá-los.Mas o povo autóctone não tem condições de fazê-lo,pois os seus salários são baixos,propositalmente baixos,para explorar a mão-obra destes lugares e ganhar com esta super-exploração.
O café brasileiro ainda vive no meio deste esqueminha.Repito:ainda que não haja mais imperialismo,a sua “ obra” continua aí.O mesmo se diz do futebol.
Todas estas crises envolvendo Alemanha e Grécia,Siria e Europa,pirataria no chifre da Àfrica, são a continuidade desta “ obra”.
As elites autóctones permanecem lá ,usufruindo do esqueminha.Quando ocorre algum tipo de descontinuidade,por qualquer motivo,este esquema se revela.Vejamos na Siria:quando o velho Assad foi substitutido pelo filho,certas alianças entre as elites locais e a Europa se esboroaram,enfraquecendo o governo.Isso permitiu a criação de uma oposição ,legitima,que sem conseguir o poder ,enfraqueceu todo o sistema politico,originando uma guerrra civil,a qual abriu um vácuo,ocupado por aproveitadores(Estado Islâmico).Até aí tudo nos conformes.Mas porquê as potências européias não invadiram a Siria para proteger a população indefesa?Porque os Estados Unidos não foram lá?Apesar de ser certo que a ONU deveria ter entrado,porque ninguém deu força a esta ideia óbvia?Porque os interesses dos EUA,da Europa,não permitiram.Não era possível no entender destes interesses se opor à Rússia,aliada da Siria.E a Rússia faz a aliança com esta ditadura para justamente não permitir que estes interesses hegemônicos,desde o neo-colonialismo,prosperem sozinhos,tranquilamente.
Se não fosse assim,no entanto,as potências entrariam e colocariam lá elites semelhantes para dar continuidade à inana.Algo parecido ocorreu na Libia.
Trump ,no seu furor nacionalista é um hipócrita porque ele sabe que os EUA e o G-7 precisam eventualmente desta mão-de-obra barata,a “ obra” do imperialismo prosseguindo.Se no passado esta mão-de-obra ficava no seu lugar ,hoje ela migra de acordo com as conveniências da metrópole.
Trump obteve dividendos eleitorais ,obteve ganhos mercadológicos,dinamismo econômico,mas ele sabe e todo mundo sabe que sem proposta não vai prescindir a longo do prazo do retorno destes trabalhadores de fora.A não ser que as nações se emancipem e se tornem auto-suficientes o problema vai continuar.E Trump só enxerga a ponta do nariz,não mais do que isto.
Quando aconteceu o 11 de setembro muita gente propõs um plano Marshal para o Orienvte de modo a acabar com a miséria destes países e terminar o ressentimento deles contra a metrópole.Eu e Maria da Conceição Tavares rimos muito disto aí:em primeiro lugar o oriente muçulmano apenas é quase quatro vezes maior que a Europa Ocidental;em segundo isto daria mais hegemonia às potências centrais,o que não seria aceito por ninguém,muito justamente.
O que tem que ocorrer,e eu acho que isto é o inicio de uma constituição jurídica de uma comunidade universal e politica de fato é a superação da “ obra” do pacto colonial,emancipando de fato as nações todas,individualmente e/ou por regiões,contando para isso com a ajuda de todos,dos mais ricos para os mais pobres.Os interesses reincidentes da colonialismo,no entanto,permanecem.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Rede Globo ,Sagrada Família e outros temas

Recebendo na rua um Jornal da Igreja da Graça,li uma matéria sobre as discrepâncias entre os patrocinadores da Globo e os valores correntes da emissora.Nunca pensei que fosse ver a Rede Globo correr os mesmos riscos que outras emissoras tiveram ao longo da minha vida:Tv Tupi,Manchete.Morrem os velhos e aí tudo se esboroa.
Com o crescimento das igrejas evangélicas ,que possuem uma caapcidade muito maior de cooptação sobre o povo brasileiro,o mercado das televisões mudou em seus valores.
A liberdade sexual ,o “ american way of life”,a juventude ,que fizeram a Rede Globo,estão sendo superados pelo conservadorismo cristão,já acantonados em outras emissoras.Estas,há muito tempo vêm tentando acabar com o monopólio da Globo,idéia muito justa,porque ninguém tem o direito de dominar totalmente o “espaço público”.Mas o que virá com a quebra deste monopólio será melhor?
Na última vez que tratei deste assunto revelei que somente agora percebi as intenções de Cândido Mendes,no passado,de fazer uma aliança cristã entre os evangélicos e os católicos:era para sedimentar os valores cristãos conservadores diante da “ modernidade”.A modernidade é representada pela Globo.Sendo uma televisão fundamentalmente católica ,não poderia propagar os valores supraditos.E é aí que reside o esforço de cooptação da Igreja Católica ,para deixar de apoiar a Globo:mostrar a ela a contradição em que vive.Este é um dos motes de Damares e se e quando isto ocorrer a base social para um eventual golpe estará dada.
Por incrível que pareça as hostes democráticas dependem da Globo e de seu epigono,Sergio Moro, para evitar esta catástrofe.Por isto entendo que o ataque pessoal de Lula e do PT a Moro e à Globo favorecem à direita e ao golpe.
Os patrocinadores da Globo querem uma mudança de valores e isto ,de um jeito ou de outro acabará com a “ antiga” Globo:se essa negar-se a mudar corre o rsico de desparecer;se mudar não será senão muito diferente da record,no mínimo.
O procedimento de fazer a Sagrada Família parecer uma família moderna com todos os problemas deplorados pelos cristãos,vem de dentro destas fileiras mesmo,para provocar comoção e reunir os cristãos numa reação,como já está ocorrendo.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A carne e os chineses

As noticias da alta da carne,por causa dos chineses,confirma o que eu disse semanas atrás:o jumento presidente trouxe para dentro do Brasil,através da Amazônia,o conflito sino-americano e ele começa atingir o Brasil.
De um lado Trump resolve taxar produtos brasileiros,de outro os chineses competem com o Brasil e o prejudicam.
Não consigo entender a doutrina diplomática brasileira,talvez militar,que justifique ter feito isto.Pedir aos Estados Unidos que apóiem o Brasil é ruim de toda a maneira,mas pelo menos é coerente com o que este governo pensa(se é que pensa).
Trazer estes dois países seria talvez algo bom se fosse para jogar um contra o outro e daí tirar vantagens para o Brasil,mas não dá para pensar assim diante do que ocorre.Estes dois países estão agredindo e forçando o Brasil,não o ajudando.
Não consigo ver como o Brasil vai obter algum tipo de ganho diante destas duas forçações de barra destes gigantes econômicos que ensaiam para 2012 um embate histórico decisivo,quando a China atingir o PIB dos Estados Unidos.
E logicamente ,o pior de tudo é que a Amazônia fica ameaçada,não protegida.Estados Unidos e China(bem como a Rússia)têm interesse na água e não só da Amazônia,mas da Bolivia.A crise que retirou Evo Morales derivou do fortalecimento da direita em seu país.A Bolivia tem um lençol de água em seu subterrâneo que aguça a cobiça destas potências.
È um jogo perigoso e irresponsável deste governo trazer para o interior da politica brasileira estas potências,que não se preocupam senão com elas próprias.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Mulher militante não é mulher,é militante

Tenho feito aqui ao longo dos anos críticas ao movimento feminista.Este artigo prossegue estes meus “ estudos”.Se efetivamente como justamente a mulher exige total igualdade social e psicológica com o homem ,em nenhum momento da vida pode ser utilizada a condição de gênero para obter vantagens,principalmente na politica.Mas não só:a política segue a vida.Se a mulher é igual ao homem ela pode fazer tudo o que o homem faz.Se não pode deve haver uma justificativa muito boa e muito bem fundamentada ,que evite em última instância a justificativa de gênero para não fazer.
Se não houver critérios deste tipo a mulher se presta a um tipo de manipulação muito antiga,que vem da Mesopotâmia e do Egito,mas adquiriu uma roupagem moderna no cristianismo.
No plano da politica e do mercado a mulher serve de biombo para interesses masculinos,que estão por trás dela.Apresentar a mulher como vítima e como problema especifico tem uma repercusssão politica e mercadológica que não ocorre com o homem,se este for,como acontece, vítima de alguma injustiça também.É a mulher que reproduz o esquema do capital,inclusive baixando o nível do produto vendido:qualquer corpo sarado chama mais atenção do que o “ paciente mérito”;qualquer fofoca ou tons de cinza tem passagem com a mulher ,que compra estas porcarias.
Na politica a mesma coisa:não é que o problema feminino,como repressão,desigualdade no tratamento,inclusive no trabalho,não exista,existe sim.Mas mesmo o movimento feminista,no afã de controlar setores feministas,eleitoralmente,não impulsiona a emancipação definitiva e geral da mulher,porque isto inviabilizaria e terminaria(com sucesso)o movimento.
A mulher não criou o patriarcado,longe disto,mas ela o reproduz ,através do machismo,exigindo do homem ,como condição inevitável de seu gênero,uma postura de mando,que só vale socialmente,mas não no mundo privado ,onde ela manipula este poder em seu proveito.Esta é a matriz da violência doméstica.
A mulher não criou o machismo,mas o reproduz na medida em que manipula também ,muitas vezes,como defesa ,o mundo masculino a seu favor,perdendo junto com ele,os elementos de amor e afeição necessários para uma vida saudável.O complexo de cinderela é bastante elucidativo quanto a isto:a contraposição do homem da casa ao amante e vice-versa mantém o interesse egoistico da mulher.Neste caso o contexto repressivo masculino justifica a prática em grande parte,mas ,não raro,a mulher usa de forma manipulatória ,o que configura uma forma de preconceito em relação ao homem.Partindo do principio de que todo homem é machista e violento a mulher se previne com este complexo,manipulando a situação e unindo,tanto quanto o homem,o amor com o poder.
Se os partidos e os movimentos têm uma responsabilidade educativa no processo emancipatório da mulher devem obrigatoriamente dar o exemplo,exigindo um comportamento estritamente igualitário da mulher em relação ao homem e se não for possível usar as exceções supracitadas,não o gênero.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Fluminense,clube correia de transmissão II

Diante das grandes vitórias do Flamengo,os outros clubes devem refletir sobre sua situação.Não que o Flamengo de uma hora para outra tenha se tornado livre dos problemas comuns aos outros times barsileiros;não é que tenha se tornado a utopia brasileira.Mas o caminho lógico é aquele:segurar um pouco as despesas,durante um certo tempo,para depois investir.Um plano ortodoxo simples,válido para todos os tempos.
Outros clubes,no entanto,não possuem condições idênticas para se segurar durante um certo tempo e depois investir e obter resultados tão imediatos como os do Flamengo,porque este clube possui uma torcida enorme,que garante os resultados desejados,de antemão.
Roberto Dinamite ,quando assuniu o poder no Vasco,em face da exigência angustiada da torcida,preferiu ignorar estes conselhos e investir de pronto num time que teve uma certa carreira positiva ,mas o que se seguiu é o que se vê hoje:um Vasco aos frangalhos.
O Fluminense ,como tantos outrso clubes,sem este mercado garantido,precisa ter um planejamento de longo prazo que não recue o futebol demasiado,de modo que ele fique esquecido ou amargando derrotas terríveis ,mas simultâneamente podendo fazer alguma coisa de boa qualidade.
Não que as torcidas não possam ajudar:ainda me lembro das faixas da torcida tricolor no tempo da máquina , “comprem que a torcida garante”.Embora ela não sido a única garantidora dos investimentos do Presidente Horta,cumpriu um papel importante.
Acabar com as dívidas,fazer o estádio,modernizar o ct,reiventar a relação coma torcida,incluindo-a sempre mais,com as festas no campo das laranjeiras e outras ideias,são bem vindas para tornar o Fluminense permanente e defintivamente um clube de primeira de divisão, incapaz de cair.
O que me impressiona nos dirigentes do Fluminese e que quando você os olha não há no rosto deles nenhuam angústia pela situação recorrente e atual do time e do clube.E pior ,nestas horas era mais que exigivel uma união dos dirigentes em torno daquilo que é mais transcendente,o próprio Fluminense.
Recordo-me de que no periodo da papai Joel,a primeira coisa que o presidente Marcio Braga fez foi deixar de lado todas as picuinhas politicas e chamar os grupos politicos do Flamengo para ajudar na luta daquele então contra o rebaixamento.
Quando os dirigentes se digladiam em público mostram que o Fluminense não é mais importante do que eles própios e que não é senão mero detalhe ou complemento das atividades pessoais deles.
Isto já tinha ficado claro para mim no episódio de Osvaldo de Oliveira e Ganso,que foi premiado pela estupidez que praticou contra o clube e a torcida.
Mas tudo isto revela que o Fluminense se tornou uma atividade meio e não finalidade,não um valor,uma grandeza,mas mera correia de transmissão de interesses inevitavelmente escusos.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Porque torci pelo Flamengo

Aqueles que lêem os meus artigos há de se lembrar que falei sobre a tentativa tantas vezes recorrentes de São Paulo de tirar a CBF do Rio de Janeiro para levá-la para São Paulo e transformar este estado no centro do esporte nacional.
Eu disse e repito que isto não era só um fato do esporte e muito menos só do futebol,mas carregava um significado mais amplo de transferência do centro cultural que sempre foi o Rio de Janeiro,para São Paulo.
O Rio de Janeiro sempre foi a caixa de ressonância do Brasil,porque é um resumo do país e a sua base histórica e política.
Mas há alguns setores que afirmam que o Rio de Janeiro é passadiço,um estado não capitalista,não moderno,mas baseado em serviços públicos e que decaiu profundamente com a transferência da capital para Brasília.
A forma de São Paulo justificar a transferência cultural e esportiva é dizer que a torcida do Corinthians é maior do que a do Flamengo.Tal é dito recorrentemente,mas não corresponde à verdade.Eu afirmei que enquanto a torcida do Flamengo fosse a maior o Rio de Janeiro conitnuaria forte.Mas não só:o Brasil também ,porque a cultura brasileira em sua diversidade e expansão será preservada.
O futebol é forte não só por causa do Flamengo ,mas também por causa do Olaria e do Isabelense ,do interior do Amazonas(ou Pará não sei),mas a medida do crescimento é o Flamengo,então ,para além da paixão clubística,há que analisar as circunstâncias culturais e politicas do Brasil com sangue-frio.
É lógico que existe muito de populismo politico e econômico em toda esta agitação pelas vitórias do Flamengo,mas num aspecto eu acho bom aproveitá-la:tambem entendia que a centralização do Brasil em São Paulo implicava na substituição do capitalismo autárquico brasileiro,suspostamente representado pelo Rio de Janeiro,pelo capitalismo de fato,moderno,naturalmente por São Paulo.
O capitalismo brasileiro,atrasado assim,só investe quando tem certeza do retorno deste investimento e como a educação é um investimento que só tem resultados a longo prazo o nosso capitalismo não investe ou encontra sempre motivos para não investir.
Contudo vendo esta imensa força do Flamengo eu penso assim:ainda que haja muito objetivo demagógico nisto aí e financeiro ele será legitimo na medida em que reverter,financeiramente,para esta mesma força,que se dispõe a se movimentar e retonar financeiramente para quem investe.
Se esta força,de alguma forma, se movimentasse ,do mesmo jeito, no plano da educação e recebesse dos governos um retorno merecido,o problema nacional estaria solucionado.O Flamengo,como o povo,transcende,deste modo,o capital,comandando-o,não sucumbindo ao seu fetichismo.
Costuma-se dizer que se as torcidas fizessem o mesmo escarcéu quando um time perde,o fizessem nas escolas,o caminho estaria aberto para erguer o Brasil.Porque não agora?Porque não juntar este entusiasmo mui merecido com a responsabilidade?
Dois assuntos inter-relacionados quero tratar em outro artigo:apesar da exclusão do negro e do pobre nos estádios a vitória do Flamengo ressoa como uma doce vingança dos mesmos,ao virem à rua comemorar;os corifeus da esquerda e outros que tais menosprezam o futebol e o esporte como alienante,mas é na atividade livre dos povos que se obtém o material cultural da mudança.

sábado, 23 de novembro de 2019

A violência das torcidas no futebol brasileiro

Nos últimos meses o normal aconteceu:violência nas torcidas,agressões a pessoas inocentes ,gritos homofóbicos e racistas.
Aqui já repercuti a minha opinião,que é a de muitas pessoas:a violência das torcidas é culpa dos dirigentes que arregimentam estes valentões para interesses pessoais(politicos e eleitoreiros) ,mas também , e isto eu não tinha falado antes,para promover o futebol.
Neste último aspecto está o acréscimo nestas análises recorrentes:a promoção do espetáculo,cuja função é criar momentos extraordinários do esporte e arrecadar,se fazia no tempo em que eu era criança,pelas qualidades próprias do espetáculo.
Ia-se ao estádio para ver Pelé jogar(bem como Gérson,Rivelino,Tostão).Ver que surpresas estes jogadores reservavam aos assistentes.Todo mundo se concentrava no essencial.
As gerações atuais viveram esta experiência com um ou outro jogador,Romário,Bebeto,mas nada se compara com o que as gerações passadas,incluindo a minha,viveram.
Ademir Marques de Meneses conta que pouco antes da final de 50 um menino em estado terminal de câncer pediu para vê-lo pessoalmente antes de ir.Quando o “ queixada” viu o garoto,o mesmo ficou emocionadíssimo e logo faleceu,mas com um sorriso no rosto.O jogador revelou que pensou:” que é isso,eu sou um deus?”
Mas era assim que garotos(como eu)viam estes jogadores.Hoje não é assim.Na época do dinheiro e do show pura e simplesmente,substitutivos do mérito e da criatividade,não é assim.
Os jogadores do passado possuíam uma personalidade,dir-se-ia artística:Pelé,o completo:Rivelino e o chute:Gerson e o lançamento;Tostão a inteligência e etc.Hoje os jogadores apresentam apenas indices ,que os colocam na ponta ou em posições intermediárias.
Mas no passado,por causa disto,podia-se encher um estádio com 200 mil pessoas que não acontecia nada.Foi assim em 1969,contra O Paraguai.Hoje 10 mil pessoas já são um perigo...
Por mais que se critique,no entanto,a briga das torcidas e nas torcidas,se não houver esta agitação,se as torcidas não impulsionarem discussões dentro das rivalidades tradicionais,o futebol perde interesse porque não há jogadores como os de antes.
Então a legitimação do uso pelos dirigentes e politicos destes “ torcedores” profissionais se dá pela necessidade de manter este mercado funcionando,porque se deixar na mão dos atletas acabou.

domingo, 17 de novembro de 2019

Elitismo e infantilismo vermelhos

Nos últimos anos tenho sido critico com o comunismo e o marxismo,mesmo tendo vindo destas duas partes do movimento social,mas existe ainda mais um foco que chama a minha atenção:o PT.
Na minha opinião toda aquela auto-reforma do socialismo,de que participei ,em intermináveis discussões,se esvaiu nas suas possibilidades porque a preocupação da militância em militar e em não desaparecer,a levou para este partido,criado na época da ditadura e que não tinha ligações com o passado e ,por isto,não projetava um futuro.Como aliás não projeta até hoje.
Mas o pior são os intelectuais:agora a culpa da eleição de Bolsonaro é deste povo brasileiro,de baixa consciência politica e incapaz de perceber que a única corrente a ser eleita é a do PT.
Nenhum intelectual de gabinete deste aí se lembra que este mesmo povo votou quatro mandatos para Lula e Dilma e recebeu de volta um dos maiores desvios de dinheiro público da História do Brasil ,bem como um desemprego e uma crise econômica enormes.
Na hora em que o socialismo vence é sempre por mérito dos militantes.Quando perde é porque os outros não deixaram.Parece aquela história do famoso livro de Michael Sayers “ A Grande Conspiração”,em que os problemas do socialismo na URSS eram por interferência do ocidente,porque afinal,o socialismo não erra.
E pior:me lembra a frase famosa de Hitler,derrotado em 1945,ao dizer “ o povo alemão não está à altura do que eu fiz por ele”.A culpa é dos outros.Eu não erro.(quando digo que existe uma similitude entre o totalitarismo de esquerda e de direita ninguém acredita...)
Isto tudo é uma manifestação de elitismo vermelho,acrescido de infantilismo:os outros têm que me reconhecer,porque eu tenho a ciência que explica tudo e se não me reconhecem eu bato pezinho.
A esquerda não sai destes exclusivismo e egocentria nunca.Não analisa o povo brasileiro(como dizia Nelson Rodrigues)só procura implementar modelos internacionalistas de outros países(autoritariamente).Eu vou explicar o porque disto no próximo artigo.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Evo Morales

Evo Morales se foi...não volta mais.O que fica destes “ novos” politicos da esquerda,que nasceram na rabeira de Chavez ,como alternativas ao fim do comunismo?Pouca coisa,nada de novo.
Agora existem na sua “defenestração” alguns precedentes importantes,porque ele renunciou para pacificar o país e evitar uma guerra civil que se está formando na Bolivia.
Lembro-me dos critérios usados pelo último Brizola para caracterizar a saída de Jango como renúncia,mas isto é bastante discutível.Mas a intenção de Brizola,se eu entendi bem,era associar Jango à pacificação do Brasil e deslegitimar o seu exilio,que talvez não tivesse sido necessário ou legitimo(certamente ,neste último caso).
É uma questão bizantina saber se o que ocorreu na Bolivia foi ou não golpe,mas,para evitar ser acusado de ficar em cima do muro,havendo renúncia e nenhuma imposição sobre o presidente de violência, não pode haver o carimbo de “golpe”.Foi na verdade uma transição,com a colaboração de Evo,para manter as instituições e a democracia,permitindo que a sua tendência partidária prossiga atuando politicamente.
Também me recordo de como aconteceu a “ transição” entre a antiga URSS e CEI,depois do “ Golpe Iannaiev”.Naquele então a primeira coisa que se fez,no afã de se criar um regime autoritário(continuando as instituições da URSS de certo modo)foi proscrever o partido comunista e este fato marcou este continuísmo autoritário de um ex-kgb que ainda está até hoje aí.
A atitude de Evo,por quem não nutro amores,garantiu,até ao momento,a possibilidade de uma tarnsição garantidora da democracia.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Análise de Conjuntura:depois de Lula

A semana começa com os efeitos da soltura de Lula.Naturalmente ,por motivos pessoais e politicos,ele teve que ser agressivo,mas ainda não sabemos se haverá uma repercussão,um revérbero ,no povo,do que ele pretende fazer:influenciar na eleição de presidente de 2022.
Sim,porque ele não é ainda ficha limpa e portanto não pode se candidatar,mas semelhantemente a Getúlio em 1945 e a Benedito Valadares ,por mais de vinte anos,se habilitou a ser o fiel da balança da politica brasileira.
Mas isto depende dos ecos no povo e a maneira como ele vai aceitar esta proposta de Lula e a resposta dada marcará não só a política,mas a história do Brasil.
Se o povo acorrer para o ex-metalúrgico,ficará provado que ele (o povo) não se importa com a questão da corrupção,sendo conivente,no cotidiano,com ela.Esta prática que joga na miséria a maior parte do povo brasileiro,não é só coisa dos politicos e partidos,mas também do povo.
Amigos,a minha análise se baseia em elementos bem simples:desde 1930,não só no Brasil,mas em muitos lugares,nós vemos uma contraposição entre uma direita tradicional e uma esquerda que oscila entre o centrismo e o radicalismo de esquerda,não raro comunista,tocado pelo maior dos radicalismos,com quem frequentemente faz aliança.
Em muitos lugares a média ética da sociedade acaba se virando para a direita quando a esquerda,quase sempre, a ataca,por algum motivo.Mesmo que a esquerda não faça nada,a direita sempre expõe o espantalho do perigo à vista,associando o inimigo com outras “ ameaças”:ideologia de gênero;os japoneses;os chineses.
A esquerda faz o mesmo,com as suas características:a culpa da miséria é do tradicionalismo,da igreja,do atraso,da classe média,assim por diante.
No meio desta besteira geral,o marisco,o povo.
Lula não tem demonstrado ser diferente desta esquerda que eu critico e que esperava que ele superasse logo na sua primeira eleição.
Tenho dito que a tarefa dele era mudar a esquerda,reconhecendo os seus erros.Não vejo nos seus movimentos e falas algo diverso disto,logo depois da soltura.
O projeto nacional da esquerda implica em unificar o país, através da união da classe média com a classe operária e incorporar à nação a ideologia(ou o oposto),abandonando esquemas velhos de compreensão da sociedade.
Como Allende ,que deveria ter ampliado o arco de alianças e repudiar os radicais,Lula não está parecendo compreender este fato:eleitoralmente vai buscar apoios em gente que o apóia em público,mas nas redes detona o seu programa(PSOL).
Se Lula não entender a necessidade de acoplar a sua estratégia a este objetivo nacional e não se colocar no centro,repudiando a direita e os radicais à esquerda,partindo para o confronto,como tem feito,só açulará de novo as mesmas reações que a roda da história já mostrou aonde leva.

sábado, 9 de novembro de 2019

O STF e o golpe

A decisão do STF sobre a prisão em segunda instância aprofunda o descalabro politico brasileiro.Aprofunda a divisão profunda do país e ninguém me tira da cabeça de que isto tudo não é de caso pensado.Só pode ser,porque não tem sentido o STF decidir uma coisa um tempo atrás e depois mudar.Só faria isto para politizar de vez a sua posição entre os poderes da república.
O direito é conservador.Tem que ser,porque só assim,na permanência, ele oferece a garantia psicológica de segurança que o estado de direito é obrigado a mostrar à sociedade.O estado de direito não pode ficar ao sabor das ventanias.
A mudança constante e contraditória como foi esta do STF marca ,quer o órgão admitir ou não ,a sua politização,a sua partidarização definitiva,fato que tem consequencias inevitáveis e graves para o futuro próximo.
Lula fora da cadeia,nestas circunstâncias favorece a impunidade e incrementa o ódio no Brasil:a polarização atingiu niveis de vingança e o discurso de campanha de Lula o prova.
O problema não é uma candidatura renovadora, alternância de poder,a discussão dos problemas nacionais,mas o desejo irrefreável de Lula de provar,às custas do país,que ele estava certo.É a privatização e personalização da vida republicana brasileira.
Esta radicalização,como já demonstrei,não vai favorecer a esquerda,muito pelo contrário,porque a insistência no retorno de Lula cristalizará ainda mais a unidade da classe média brasileira e da média ética brasileira,muito maiores do que o abc paulista ou o nordeste.
E se houver,dentro deste contexto,uma confrontação,as condições para um golpe estarão dadas.
Moro,como já disse,saiu desmoralizado,como a Globo,a sua patrocinadora.Era importante a esquerda,ao fazer politica,ver que a Globo está,agora,no campo democratico,contra o golpe,mas ,em seu dogmatismo e esquerdismo,comete os mesmos erros de 64.
Eu disse há muitos anos que viviamos um período de farsa e muitos radicais me disseram que desta vez a esquerda venceria,acabando com a farsa.Duvido muito.O marisco(o povo)vai perder.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Ciro Gomes IV

Nem bem a “ tinta” do meu último artigo sobre Ciro Gomes secou e ele já concedeu outra entrevista à Folha de São Paulo,batendo e batendo em Lula.
Repito o que disse antes:esta estratégia só fará crescer o petista.O ideal é buscar uma alternativa.O que o povo mais quer ouvir é um discurso nacional efetivo e não ficar na cola de Lula e do PT.
O “ Lula livre” arrefeceu claramente diante dos problemas nacionais,mas isto não autoriza bater nele para ganhar parte das hostes petistas.Estas hostes não vão se dispersar por causa deste arrefecimento.Não há prova de numa eleição,diante da ventania que o PT pode provocar que a figura do “ maior lider trabalhista brasileiro do século XX”((Dilma)[maior que Getúlio...])não ressurja.
Eu faço estes artigos,porque acredito que o centrismo pode colocar o Brasil novamente nos trilhos.A verdade histórica e politica é esta:que a transição,em 1985,não se completou,porque os problemas que não foram resolvidos naquele tempo,em relação ao passado,continuam aí e uma candidatura centrista,nacional,poderia ,com apoio firme da maioria do povo brasileiro,desatar este nó de décadas ,e fazer o povo brasileiro se preocupar com o presente e o futuro.
Além do mais,isto evitaria que carreiras inócuas,à direita e à esquerda,se fizessem, pela espiroqueteação deste passado(64) e dos mortos e desaparecidos.
Mas ,como eu disse,Ciro Gomes é ao simultâneamente arcaico e moderno:às vezes trata do Brasil,às vezes,não raro,age impulsivamente.Porque foi rejeitado lá no PT,quer se vingar(parece)e o justifica querendo “ tomar” os eleitores do PT.
Como no passado age aos trancos:se candidata,faz campanha,para depois reconhecer que não tinha condições de se candidatar...Uma espécie de Brizola:incendeia para depois reconhecer que era inexperiente,depois da tranca da porta arrombada.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O imposto sobre os ricos

Na eleição passada falei muito sobre os erros de Boulos especialmente no que tange ao seu mote de taxar os ricos,sonho que é acalentado pela humanidade há séculos e que ainda hoje não se realizou completamente.
O grande humanista Erasmo de Roterdam,em um determinado período de sua vida,foi lecionar em Oxford,Inglaterra,a convite de seu amigo e outro grande humanista Thomas More.Neste país Erasmo escreveu o seu grande livro “Encomium Moriae”,”O Elogio da Loucura”,cujo titulo em Latim é uma brincadeira com o nome de seu amigo inglês,depois decapitado pelo Rei Henrique VIII.
Uma das coisas que Erasmo queria era juntar dinheiro para voltar seguro,na velhice,ao seu país natal,a Holanda.Ao reunir um numerário condizente com este propósito o humanista quis voltar para o continente,mas na hora de pegar o navio e atravessar o Canal da Mancha,foi impedido de levar as suas economias.
Era a época áurea do Mercantilismo,associado ao absolutismo monárquico,o hipermetalismo,doutrina econômica segundo a qual todo país tinha o direito de acumular pura e simplesmente toda a quantidade de ouro e prata possível para garantir o erário públicoe manter as condições de sobrevivência econômica do reino.
No tempo de Henrique VIII era esta a prática,consentânea com os outros absolutismos continentais.Depois,no reinado de Elizabeth I isto mudou,mas não cabe aqui discutir isto.
O que quero discutir é que esta postura nacional de garantir as condições de acumulação capitalista,prosperou nos países com um projeto nacional forte e homogêneo(ainda que conseguido às custas de muita violência,como na Espanha)e os manteve destacados durante séculos,muito embora nações como a Espanha e Portugal tenham decaído.
Até aos dias de hoje taxar os ricos é um problema não resolvido,mesmo em países com uma certa distribuição de renda,como nos Estados Unidos.Lá também as condições de taxação dos ricos são muito precárias e aqui no Brasil ocorre uma situação oposta àquela de Erasmo de Roterdam:taxar os ricos vai fazê-los emigrar e enviar as suas posses para o exterior.As classes altas não investem no seu país.
Esta é uma diefernça essencial que que queria fixar aqui neste meu artigo:as classes altas dos países centrais da Europa sempre tiveram uma preocupação de investir no seu próprio local,até para se prevenir.
A competição entre as nações da Europa,as fez exclusivistas,mas isto não é mau,porque o esforço de contrução de riqueza,a partir de um critério autóctone, não as enfraqueceu,antes as fortaleceu e de quebra à Europa.Vou voltar ao tema no próximo artigo.

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Sr. Presidente:o senhor não governa

Mais uma polêmica,mais xingamentos,mais fake news e o governo fica sem governar,como eu pedi e exigi.Eu sou frequentemente acusado de delirar na maionese,de acreditar piamente em teorias conspiratórias ,mas não dá para não acreditar que tudo isto não seja de caso pensado para o presidente encontrar um motivo para renunciar e colocar os militares ou para ele mesmo ,se sentindo acuado,justificar um regime autoritário,como Eduardo Bolsonaro insinuou diante desta “nova” crise do porteiro.
Numa entrevista a Leda Nagle Eduardo ameaçou implantar um AI-5 através de plebiscito se a esquerda radicalizar,culpando o pai de tudo.Mas a esquerda,embora muito ruim,não tem nada a ver com isto,nada.
O governo chegou ao seu limite de tentativas de desestabilização para justificar uma solução de força,que foi este o objetivo desde o inicio.Pela primeira vez ficaram claros estes propósitos e a situação politica conjuntural geral se complica muito,como no tempo da transição.
Com a ameaça de Eduardo Bolsonaro,provocando uma confrontação ,a questão de se se deve aceitá-la torna-se fulcral,porque se houver confrontação a este ato de ataque à democracia,pode justificar a sua destruição por parte deste governo,cercado de militares.
Como tenho dito não há unidade na base social e civil do governo,mas a indiferença eventual do povo pode permitir a estes militares usar a força,apenas com um problema:se a caserna estará disposta,como parece não estar,de se lançar numa aventura anti-comunista,quando os comunistas cabem numa kombi.
Muito embora do ponto de vista legal os militares que estão no governo já estejam reformados e os demais ocupem postos institucionais, fica a dúvida se o contato com os quartéis é contagioso.
De outro lado a posição do atual presidente da Câmara,Rodrigo Maia, que propôs punição a Eduardo,fica igualmente ambígua porque não se sabe se esta postulação é para parar a marcha da força ou fomentá-la em proveito próprio.
Mas a situação que causa mais expectativa é a da esquerda mesmo,e eu repito aquilo que tenho dito estes anos todos:não confrontar é a palavra de ordem.Saber se conduzir agora,no estrito caminho da democracia e suas instituições,é fundamental para que ela continue.
Pelo menos na linguagem isto parece ser um compromisso da esquerda,mas o seu exclusivismo,resto da concepção tradicional da luta de classes,identificado com um setor só do país,a generalidade dos “pobres”,não é uma boa via de relacionamento com a democracia,porque pode espicaçar setores de classe média e o Brasil ,já dividido,pode entrar numa rota de colisão.
Neste momento a presença dos militares e o seu discurso mudarão para oferecer ao povo brasileiro ou a estes setores supostamente ameaçados ,uma proteção.
Repito o que tenho dito:se a esquerda não defender o país como um todo e induzir a mais divisões, o risco desta situação aparentemente pifia se descontrolar é grande.
Vamos acompanhar o desenrolar dos acontecimentos,mas antes do final,uma observação eu quero fazer:no meu entendimento esta é a última tentativa deste governo vacuoso de se manter no poder.Se não der certo esta estratégia o Presidente dificilmente permanecerá e aí o problema serão os militares:será que eles herdarão este vazio do Presidente ou serão algo diferente?Ou 64 de novo?
Em todo caso continua não havendo governo.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Uma defesa de Paulo Freire

Muitos artigos atrás disse que o patrono da educação brasileira era Anisio Teixeira,por abordar a questão nacional,e mantenho esta minha assertiva.
É discutível a postura educacional de Paulo Freire,de mediatizar a educação com a ideologia,pelo fato de favorecer o partidismo,em muitos casos passando por cima da escolha consciente do oprimido,mas em outro artigo tratarei do seu método.
O professor,por mais que queira ser isento,diante de certos fatos,não tem como não alertar os seus alunos.Tenho escrito artigos sobre o dia do professor,” comemorado” no dia 15 último e me reporto,muitas vezes,a experiências pessoais,comuns a todos os professores:uma destas experiências é a má qualidade do ensino,a excludência que incide sobre determinadas faculdades particulares,que atinge os alunos.Este último fenômeno era muito comum ,no passado(e ainda hoje),quanto à escola pública:o aluno de escola pública não saía preparado e não era priorizado na hora do primeiro emprego.Estudiosos afirmam que ,ainda que não se diga isto hoje,a prática,ocorre,porque o aluno de escolas particulares está mais preparado.
Diante de uma situação como esta um professor consciente tem que advertir os seus alunos,senão os estará enganando.A sala de aula não é dissociada da vida.Há um conceito pedagógico dando conta de que na hora do estudo o professor tem que induzir o aluno a gostar do que ele vê imediatamente,mas em certos contextos históricos e sociais uma blindagem deste tipo não é possível porque a realidade de fora da escola passa por cima dela inexoravelmente.
Quando era professor de faculdade particular,na área de direito,fiquei sabendo do absurdo de certos escritórios não aceitarem alunos oriundos de algumas delas,ato discriminatório pura e simples e preveni os meus aprendentes desta situação,não deixando de criticar a minha empregadora por não tratar do problema.Isto não é ideologizar,é dizer a verdade e cumprir com o dever de professor.
Mas duas coisas eu queria dizer a respeito de Paulo Freire:a primeira diz respeito à acusação da direita “ moderna” quanto à sua responsabilidade no analfabetismo funcional reinante hoje.Como já expliquei nos artigos anteriores não se falava em Paulo Freire na época da ditadura,porque isto dava cadeia.Foi a ditadura,usando Piaget(sem o consentimento dele),que acabou com a capacidade abstrativa do aluno,em favor da apreensão concreta da realidade,o que facilitava o projeto de inserir este “ novo aluno” numa prepocupação com as necessidades imediatas de sua vida,sem conectá-las com os problemas gerais,coletivos,nacionais,coisa que perdura até aos dias de hoje.
Pode-se objetar que o método Paulo Freire é assim e esta é outra discussão,mas ele não inseriu as suas propostas neste projeto de “ analfabetização” da sociedade.O objetivo dele era mais especifico.
A segunda coisa é que Paulo Freire é,a meu ver,um dos maiores críticos do stalinismo e do totalitarismo em geral.Quando eu já estava em crise com o stalinismo,o insight de Paulo Freire,em certo texto,foi decisivo para marcar a minha oposição a esta forma de violência politica de esquerda.Eu cito aqui a frase dele,mais ou menos,de memória:”o totalitarismo stalinista é completamente reacionário porque ele parte do pressuposto de que destruindo toda uma sociedade para colocar outra,melhor,no lugar,é possível construir a utopia.”
Quer dizer ,o rompimento violento com o passado é ilegítimo,por mais que o passado seja reacionário.Como um bom professor ele mostra que a atitude de ensino não é compatível com a violência,a destruição,mas com a construção.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Ciro Gomes III

É uma lástima na história do Brasil que a centro -esquerda queira sempre ser mais radical do que a esquerda propriamente dita.O medo de ficar no centro é cair na direita,então o centro-esquerda sempre pende para a esquerda radical,mas o lugar dele é na centro-esquerda mesmo.
O caso clássico que eu já analisei na história do Brasil é o de Brizola que,antes de Prestes entrar no PDT,era profundamente anti-comunista mas radicalizava para competir com os comunistas,inflando uma situação de perigo vermelho,da qual ele fazia parte.
Mas Ciro Gomes está repetindo estes erros do passado e de Brizola.O caminho do centro,da centro esquerda é não radicalizar,é se apoiar nas características médias do povo brasileiro para impulsionar o Brasil,dexiando de lado estes extremos que não ajudam em nada.O debate aqui no Brasil(e em muitos lugares)é esta gangorra mercado/estado,mas o que a equilibra é a nação.
Ciro fica fazendo elogios à politica externa do PT ,bem como a realizações de seu governo,esperando capitalizar setores do partido para si,numa lógica impossível,porque o petista não vai fazer isto e na hora de lutar por espaço,no plano de cima da politica, o choque é inevitável e ele,Ciro, perde.
Talvez o candidato não queira fazer a ligação direta com o pvo,que fez as manifestações,e com a média ética da sociedade brasileira,fiel à democracia dos partidos,mas a conexão é legítima e afinal não é verdade que ele não possa fazer alianças partidárias boas para seu projeto.
Mas aí ,como eu disse,o medo da direita,dos partidos da direita, faz o seu papel psiquico de translação para a ultra-esquerda e para o vocabulário compulsivo.
Ganhando o povo brasileiro,Ciro pode pressionar setores do PT e de outros partidos ,como PPS e PSB,para sua candidatura e evitar esta queda para a direita.
O que opera esta queda é ficar em cima do muro,sem proposta ou programa ou com um discurso truncado,que se revelou na eleição do ano passado.Vou tratar disto em outro artigo.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

O professor é despesa,o aluno receita III

Na universidade pública existem problemas semelhantes a estes da universidade particular.Aí o problema mais sério é a questão da politica,dos grupos politicos que se imiscuem na atividade e progressão profissional dos mestres.
É uma lástima para um país que os universitários de muitas gerações não tivessem entrado em contato na sala de aula com Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro,que,por motivos politicos vários(à esquerda e à direita)não puderam atuar muito,como deveriam.Uma geração mais antiga e outra mais nova precisam estar em contato antes que a primeira se vá.
Mas também a ditadura ,acompanhada pela esquerda que voltou do exilio,incorporou o projeto americano de direita de “ profissionalizar” os professores,em detrimento do intelectual clássico interdisciplinar,muito comum,antes dos anos sessenta,como de corrência de toda uma época clássica.
Foi este intelectual que agitou os “sixties”,mas este abalo gerou uma reação igual e contrária da direita,que ,no plano educacional,criou as faculdades particulares,mais calcadas nas atividades com resultado econômico direto,ditas “ profissionais”(como se filosofia não fosse...),ganhando a maioria silenciosa para este projeto,mas não só:a esquerda ,voltando do exilio,aceitou esta “ profissionalização”,especializando-se de forma radical,porque este é o significado desta profissionalização,a especialização em lugar da interdisciplinaridade,tida e havida,a partir de agora,como “ diletantismo”.
Uma das medidas por que se pode avaliar os efeitos desta especialização profundamente radical e interessada,é o famoso “analfabetismo funcional”,que está sempre presente no discurso acusatório de Olavo de Carvalho,muito embora ele atribua esta situação a Paulo Freire,o que não faz sentido nenhum.
No passado os manuais(que duravam o curso todo)seguiam uma metodologia dissertativa simples,do simples para o complexo(Descartes) e resultava.
Agora,com a ditadura desta pós-graduação americana tudo são textos,reunidos sem muita conexão,para empanturrar alunos despreparados.E fingir que se está ensinando,sem falar no favorecimento dos grupos politicos que se enquistaram na pós,do mestrado até ao pós-doutorado.Eu me lembro que numa univercidade em que lecionava aí ,no inicio do ano,me deram 40 textos ,em latim,francês e inglês,para levar para Bangu,Campo Grande e outros lugares...
No passado,o último suspiro do pensamento clássico foi a constatação óbvia de que todo o texto tem um contexto.Se alfabetizar definitivamente era e é relacionar um texto com o seu contexto,que se percebe,se se tiver esta compreensão prévia do ato de ler,nas entrelinhas.
Com esta formação que tive,quando entrei nos mestrados pensei que ia ser assim,mas qual não foi a minha surpresa ao notar a proibição de abordar o contexto junto com o texto.
O aluno de faculdade particular tem de modo geral um analfabetismo que vem desde o ensino básico,mas o das faculdades públicas é algo mais “ sofisticado”:ele é treinado para reproduzir este esquema profissional,sem contestar coisa nenhuma e se adaptar aos esquemas politicos da graduação e da pós.Mas é analfabetismo sim,porque não se entende um texto sem contexto.Em próximo artigo eu vou dar exemplos disto.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

O carnaval e o socialismo

Persiste o problema do Carnaval do Rio de Janeiro,com a queda de braço entre Crivella e Witzel.Crivella ataca o carnaval para favorecer a religião, com seus valores,atingidos,no entender dele, pelos do Carnaval,extremamente sexualizado.
Witzel se aproveita disto(será que não é tudo armação,eu pergunto?)para angariar apoio do povo se oferecendo para dirigir a festa.Crivella aceita e com isto também obtém aprovação,mesmo do pessoal do carnaval(não será tudo de caso pensado,eu pergunto?).E tudo continua dantes no quartel de abrantes...
Este imbroglio atende a vários interesses(não será tudo de propósito,eu pergunto?):a religião,através do prefeito, arma um circo para tirar a rede globo do carnaval e favorecer a si própria,liberando a midia.Os seus valores majoritários vencem os da Globo,que fica dependente de outra ajuda(estado[witzel]),que,por seu lado,lhe impõe determinados limites,mas ganha também ,junto com a televisão,um capital considerável(Witzel).
Mas eu pergunto também se numa perspectiva socialista isto não poderia ser resolvido de maneira republicana ,como eu já sugeri no caso da zona oeste,artigos atrás:o pessoal do carnaval tem em volta de si muitos empregos que não podem ser extinguidos se a festa o for.E nem a religião pode obrigar estes trabalhadores a migrar para a área da religião,mudando a sua escolha existencial.
Então o direito do carnaval prosseguir é legitimo e tem que ser protegido pelo estado,o qual não tem o direito de só chupá-lo como a uma manga,mas devolvendo ,numa visão obrigatoriamente coletiva,ao povo em geral,algo do capital recebido para construir escolas,ajudar os mais pobres(no espirito de Cristo que veio à terra para priorizar os desvalidos)e acabar com a exclusão,porque dinheiro tem.
Ao se falar isto ,ao se defender esta postura claramente socialista de divisão do capital,todo mundo pula na cadeira “ comunismo”,ofensa à propriedade!(os comunistas criticam também chamado de traição..)Mas estes fundamentos provêem de Locke e seu “ Segundo Tratado do Governo Civil”,que muita gente anticomunista aí nas rádios não cita.Este livro é o fundamento da consituição dos Estados Unidos e de sua ideologia formadora.
No segundo capitulo “ Da propriedade” Locke usa o exemplo de um indio americano que quando tira uma fruta de uma árvore ,esta fruta é dele.O anticomunismo moderno entende este princípio como o direito de uma pessoa só de tomar tudo para si ,pelo esforço e com dinheiro,mas o que Locke diz é que todas as pessoas têm o direito de ter a sua propriedade se protegendo da predação dos outros.
Foi com este entendimento que o Presidente democrata Ted Roosevelt acabou com os monopólios nos EUA.
Assim sendo cada um tem o seu lugar ,guardando a evidência(descoberta também por Locke)da desigualdade natural dos homens:a religião tem o seu lugar,o carnaval também e o cidadão comum.Cada um ganha o seu quinhão e com os tributos(assunto do próximo artigo)é possível investir no social ,nas pessoas excluídas.Porque ninguém pensa assim?Em outro artigo responderei a esta pergunta.