terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Em torno a Hegel I

 

Também faço textos sobre como se deve ler Hegel nos dias atuais e depois de tantas criticas ,nos últimos duzentos anos.

A rigor Hegel é 50% de direita e 50% de esquerda e na mesma proporção mau e bom.

E ele é assim dentro do espirito de sua época ,em que se igualava a figura do mal(do diabo) e do bem.Dar uma chance ao mal,ao diabo,dialogando com ele,era algo um tanto quanto generalizado e genérico.

Todo mundo sabe que não há como  explicar Hegel sem a reforma protestante,sem Lutero.E Lutero e o protestantismo modificam a relação do homem com o diabo,com o mal.

Mas a posição deles era de confrontação e superação.Em Hegel ,no amago da sua proposta de dialética total,há uma certa incorporação deste principio ao processo e tal atitude é consentânea com certos setores da reforma e do pensamento que deriva dela.

Nós pensamos na figura de John Milton ,em seu “Paradise Lost”,em que Lúcifer,o anjo decaído,tem que “ pedir permissão” a Deus para ficar na sua posição de “chefe” do inferno.Ele diz que “a vingança é minha” e Deus o permite como parte do livre-arbitrio humano ,como arte da necessária aprendizagem humana do mal:ouvir o canto de sereia de Lúcifer.

Aproximando-se o século XVIII a figura de Fausto,o alquimista que fez o pacto com o mal ,suprime e dilui o livre-arbitrio para estabelecer um diálogo diferente ,tornando-o inclusive produtivo,capaz de ajudar ao homem na sua luta por liberdade.

Hegel (me)parece ir nesta direção,porque na sua dialética(e na dialética posterior de outros pensadores)o principio do movimento  precede e desqualifica o livro-arbitrio e põe o mal como condição legitima e natural da evolução do Ser e do Homem.

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