Completando
o artigo anterior algumas coisas ainda devem ser ditas. Este milenarismo
geral,tanto da esquerda quanto da direita, é pura demagogia,pura manipulação.E
tal procedimento atinge também a sociedade civil.
Não
há ninguém que não necessite de legitimação,de apoio e de ...dinheiro,da maioria
das pessoas.A História,no entanto,já provou que para mudar a sociedade os
remédios são amargos.Amargo quer dizer que há no conceito de mudança uma exigência
de ruptura.
A
experiência humana não se rompe.Mesmo nas revoluções uma coisa fica outra vai.Quero
dizer,mesmo nas revoluções fica algo do passado,em meio à afirmação constante
do presente,condição do futuro.
Talvez
por isto Hegel tenha elaborado o conceito de aufhebung ,superação\assimilação,para
designar aquilo que está na bandeira brasileira ordem e progresso .Mudar
conservando.
Num
determinado plano porém , a ruptura se não é total,tem que ser consistente:no
plano psicológico,a qualquer custo e pena.
E
as mudanças,com a revolução,se dão pelas convicções,não pela conveniência .
A
busca de leitores por parte de um jornal o impede de dizer a verdade,mas de
submeter o trabalho intelectual aos imperativos da vitimização.O intelectual,embora
disto não dependam os seus ganhos,quer reconhecimento e prestigio(eventualmente
poder) e não os obterá se não conseguir o apoio de todos.
Como
eu disse no outro artigo o povo brasileiro é como todos os outros,tendo as
mesmas qualidades e possibilidades,mas além daquelas faltas citadas,há uma
outra decisiva:o ethos do trabalho que não é identificado com
emprego,mas iniciativa individual,disciplina para realizar coisas a
partir de si mesmo.
Há
barreiras sim.Somos um país de capitalismo autárquico,dependente do estado(com exceção
talvez de São Paulo),mas existem também aberturas ,as quais devem aproveitar
aqueles que podem(principalmente se forem militantes de esquerda).
Não
se justifica não agir assim,individualmente,por causa do medo de afirmar o capitalismo,numa
visão idealizada deste modo-de-produção. Idealizada como é toda “rejeição
religiosa do mundo”, no dizer de Max Weber.
O
povo brasileiro é hedônico e autoreferente.
Gosta de festa o tempo todo,talvez para esquecer problemas...Não sou contra,até
porque gosto de festa(embora na velhice já não possa).
Contudo
ele tem características que explicam o
seu atraso:ele é em grande parte tutelado,como explica Gilberto Freyre,por
influência da religião católica e como pontifica Rousseau no “Contrato Social”.
Mas
igualmente seguindo esta religião,por causa
do paradigma da casa-grande e senzala,uma especificação da sociedade arcaica e
hierarquizada em que vivemos.
Ele
é imediatista porque não vê senão a realidade á sua volta.Não relacionas as
suas escolhas com as necessidades gerais e transcendentes de cidadania e de republica.
Se
escolhe um modelo e este modelo tem uma
maioria é o que deve prevalecer,quando ,no plano coletivo da cidadania,há que
se considerar os interesses dos outros.
Uma
das razões da maturidade da humanidade,no plano geral e individual,segundo Kant,
é o reconhecimento transcendente do outro,do outro de razão(de sentimento,de
realidade e etc.)e o brasileiro ainda não chegou a esta “revolução racionalista”.
Apesar
dos espaços conquistados de democracia e mobilidade social ascendente o que predomina
hegemonicamente é esta velha estrutura.
Lembrando
Foucault,as leis podem ter mudado,mas a s consciências e a prática continuam no passado(Vigiar e
Punir).
Há
momentos na História em que as elites ou pessoas responsáveis tomaram para si a
tarefa de romper com esta demagogia:Lenin,que rompeu com os critérios da
social-democracia;o czar Pedro I ,o Grande,que disse aos russos que ele os
mudaria,num sentido ocidental;as revoluções inglesas e a francesa.Mas eu
ressalto um único caso,proveniente da esquerda comunista,que,para mim,resume
tudo o que eu estou dizendo aqui:o caso de Togliatti,nos anos 50 do século
passado ,que se colocou contra os militantes do partido,que queriam tomar o
poder,sendo impedidos por ele,pelas razões óbvias de que a quebra da democracia
italiana traria mais prejuízos do que vantagens e era algo ilegítimo.
Chegou
a hora de alguém não sucumbir ao vitimismo e à demagogia.
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