domingo, 10 de dezembro de 2023

Esclarecimentos sobre o meu artigo: Os ricos são maus,os pobres são bons.

 

Na verdade era o artigo(um deles)sobre o racismo reverso que está se formando no Brasil e que tem me incomodado pessoalmente agora e na vida inteira.

Um professor na folha de são Paulo veio me contestar indiretamente (naturalmente a folha e ele não vão reconhecer que fizeram o artigo sobre mim,que devo ser auto-referente e paranóico[não tenho diploma]).

No artigo anterior(ou num outro,não lembro)eu citei a anamnese feita pelo personagem principal de “O Mulato”,de Aluisio Azevedo,que no final do romance rememora certos fatos recentes e percebe que o que os motivou foi  racismo,contra a  sua condição  de Mulato.Um dos grandes momentos da literatura brasileira.

Ao longo da vida notava um certo ciderelismo de minha mãe cabocla ,que sempre contrapunha aos meus privilégios a luta de meninos mais pobres.Quando eu era atacado por frescuras,era com este discurso “educativo” que ela vinha.

Mas relembrando estes momentos eu notei que eram sempre “ex-adversos” negros e\ou pobres.Eu não vou entrar aqui nestas questões familiares.Elas servem só de exemplo para o que eu quero expor:

O que eu disse no artigo,que suscitou a critica dos dois entes de razão acima,é que ,conforme a minha evolução intelectual mostrada aqui nos últimos dez anos,passei  a considerar que os métodos aristotélicos e sociológicos formadores de padrões,descortinam no máximo(mas de maneira inarredável)tendências que nos ajudam a compreender os fenômenos sociais.

Mas sem a sociologia compreensiva e descritiva de ,entre outros,Max Weber,caímos no milenarismo marxista de que a responsabilidade pelos problemas sociais é só das classes altas e que os pobres são uns coitados que devem ser carregados pelos poderosos “culpados de tudo”.

Este discurso marxista parece meu pai stalinista:na mesa de jantar ele dizia(insinuava), “não sou Karl Marx II[a Missão]”por causa do capitalismo.Esta choradeira.

Há uma margem sim para os “ subalternos” atuarem  e crescerem,mas não o fazem  com medo de ,com o seu eventual sucesso,legitimar  a sociedade capitalista exploradora.

E de outro lado as vanguardas de esquerda crescem e se estabelecem neste milenarismo cinderelista marxóide:aquele que não cresce,mas cultiva a sua frustração, fica debaixo da proteção destas vanguardas e aí o movimento social fica num impasse e numa situação semelhante à da relação das classes altas com o povo em geral.Em uma manipulação.

A sociologia compreensiva provou algo que é essencial considerar na explicação das sociedades:por entre os padrões e tendências é possível identificar o movimento quase-individual dos grupos sociais e este mover-se é igualmente essencial para diagnosticar e preconizar uma solução.

No meu modo de entender é só esta sociologia que faz prognósticos.De Comte a Durkheim,passando por Marx,o que se obtém são diagnósticos e tendências.

Elas ajudam ,mas não são suficientes.A prognose é da sociologia do conhecimento.A meu ver ,o começo desta busca pelo individuo social ,associado a  tendências identificáveis,começa com Marx e o “concreto de pensamento”.

Abstrair o movimento do capitalismo até chegar naquele operário que está na fábrica,é ,quase,como esta visão compreensiva e descritiva de Max Weber ,Simmel et al.

Só que esta última consegue ir além da pura condição de trabalhador,de operário,que Marx destacara,mas que não é suficiente,já que o homem  não se reduz às necessidades e à sua condição de trabalhador.

Este trabalhador tem consciência ,valores e cultura e estes elementos se juntam para dar sentido às tendências de sua vida individual e coletiva:o trabalhador tem uma religião,tem conceitos e critérios que orientam a sua vida.

Foi neste sentido que eu critiquei os pobres no último artigo:o brasileiro é um povo como qualquer outro,mas ele tem problemas na sua formação cultural e histórica já conhecidos e analisados pelos pensadores brasileiros,todos.

Nós temos um desenvolvimento diferente dos povos centrais,que já possuem uma bagagem de séculos.É como uma pessoa de meia-idade  que perde o emprego:ela tem ainda uma bagagem que vai ajuda-la a se recolocar.Se a sociedade não o considera é outro problema,mas ela tem.

O Brasil não tem esta bagagem,pelo menos,diante dos desafios que se colocam diante de nós.O Brasil ainda é dependente e sofre as consequencias  da escravidão,principalmente na ausência de um mercado interno.

Todas  estas faltas não são propriamente culpas dos pobres e lhes dificultam a vida.Mas há uma margem sim de luta,individual e coletiva.

O  ethos do trabalho,conceito de Max Weber ,explica muito do brasileiro médio:o povo brasileiro entende o trabalho como emprego,não como iniciativa individual,capacidade criativa a partir de si mesmo.

Há um grande caminho que o povo pode trilhar para diminuir a exploração,diminuir a miséria.E ele não faz.

Foi isto o que eu quis dizer.

 

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