Na
verdade era o artigo(um deles)sobre o racismo reverso que está se formando no
Brasil e que tem me incomodado pessoalmente agora e na vida inteira.
Um
professor na folha de são Paulo veio me contestar indiretamente (naturalmente a
folha e ele não vão reconhecer que fizeram o artigo sobre mim,que devo ser auto-referente
e paranóico[não tenho diploma]).
No
artigo anterior(ou num outro,não lembro)eu citei a anamnese feita pelo
personagem principal de “O Mulato”,de Aluisio Azevedo,que no final do romance
rememora certos fatos recentes e percebe que o que os motivou foi racismo,contra a sua condição
de Mulato.Um dos grandes momentos da literatura brasileira.
Ao
longo da vida notava um certo ciderelismo de minha mãe cabocla ,que sempre
contrapunha aos meus privilégios a luta de meninos mais pobres.Quando eu era
atacado por frescuras,era com este discurso “educativo” que ela vinha.
Mas
relembrando estes momentos eu notei que eram sempre “ex-adversos” negros e\ou
pobres.Eu não vou entrar aqui nestas questões familiares.Elas servem só de
exemplo para o que eu quero expor:
O
que eu disse no artigo,que suscitou a critica dos dois entes de razão acima,é
que ,conforme a minha evolução intelectual mostrada aqui nos últimos dez anos,passei
a considerar que os métodos
aristotélicos e sociológicos formadores de padrões,descortinam no máximo(mas de
maneira inarredável)tendências que nos ajudam a compreender os fenômenos
sociais.
Mas
sem a sociologia compreensiva e descritiva de ,entre outros,Max Weber,caímos no
milenarismo marxista de que a responsabilidade pelos problemas sociais é só das
classes altas e que os pobres são uns coitados que devem ser carregados pelos
poderosos “culpados de tudo”.
Este
discurso marxista parece meu pai stalinista:na mesa de jantar ele
dizia(insinuava), “não sou Karl Marx II[a Missão]”por causa do capitalismo.Esta
choradeira.
Há
uma margem sim para os “ subalternos” atuarem
e crescerem,mas não o fazem com
medo de ,com o seu eventual sucesso,legitimar
a sociedade capitalista exploradora.
E
de outro lado as vanguardas de esquerda crescem e se estabelecem neste
milenarismo cinderelista marxóide:aquele que não cresce,mas cultiva a sua
frustração, fica debaixo da proteção destas vanguardas e aí o movimento social
fica num impasse e numa situação semelhante à da relação das classes altas com
o povo em geral.Em uma manipulação.
A
sociologia compreensiva provou algo que é essencial considerar na explicação
das sociedades:por entre os padrões e tendências é possível identificar o
movimento quase-individual dos grupos sociais e este mover-se é igualmente
essencial para diagnosticar e preconizar uma solução.
No
meu modo de entender é só esta sociologia que faz prognósticos.De Comte a
Durkheim,passando por Marx,o que se obtém são diagnósticos e tendências.
Elas
ajudam ,mas não são suficientes.A prognose é da sociologia do conhecimento.A
meu ver ,o começo desta busca pelo individuo social ,associado a tendências identificáveis,começa com Marx e o
“concreto de pensamento”.
Abstrair
o movimento do capitalismo até chegar naquele operário que está na fábrica,é
,quase,como esta visão compreensiva e descritiva de Max Weber ,Simmel et al.
Só
que esta última consegue ir além da pura condição de trabalhador,de
operário,que Marx destacara,mas que não é suficiente,já que o homem não se reduz às necessidades e à sua condição
de trabalhador.
Este
trabalhador tem consciência ,valores e cultura e estes elementos se juntam para
dar sentido às tendências de sua vida individual e coletiva:o trabalhador tem
uma religião,tem conceitos e critérios que orientam a sua vida.
Foi
neste sentido que eu critiquei os pobres no último artigo:o brasileiro é um
povo como qualquer outro,mas ele tem problemas na sua formação cultural e
histórica já conhecidos e analisados pelos pensadores brasileiros,todos.
Nós
temos um desenvolvimento diferente dos povos centrais,que já possuem uma
bagagem de séculos.É como uma pessoa de meia-idade que perde o emprego:ela tem ainda uma bagagem
que vai ajuda-la a se recolocar.Se a sociedade não o considera é outro
problema,mas ela tem.
O
Brasil não tem esta bagagem,pelo menos,diante dos desafios que se colocam
diante de nós.O Brasil ainda é dependente e sofre as consequencias da escravidão,principalmente na ausência de um
mercado interno.
Todas
estas faltas não são propriamente culpas
dos pobres e lhes dificultam a vida.Mas há uma margem sim de luta,individual e
coletiva.
O ethos do trabalho,conceito de Max
Weber ,explica muito do brasileiro médio:o povo brasileiro entende o trabalho
como emprego,não como iniciativa individual,capacidade criativa a partir de si
mesmo.
Há
um grande caminho que o povo pode trilhar para diminuir a exploração,diminuir a
miséria.E ele não faz.
Foi
isto o que eu quis dizer.
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